domingo, 17 de fevereiro de 2008

Sarah

Sem inspiração para revisões e questionamentos gramatico-literários. Espero compreensão. Desculpem e obrigada!
Detesto datas comemorativas. Não há o que se comemorar. Para mim tudo não passa de uma nostalgia da farsa voluntária. Reuniões com frases ocas. Congratulações robóticas. Abomino todas, sem excessão.
No próximo fim de semana é dia das mães. Grande coisa! Estou cada dia mais certa de que Sarah nunca soube bem o que esta palavra significa. E domingo terei que dizer: "Feliz Dia das Mães para a melhor de todas!", e fazer o meu papel nesta dramatização comércio-social.
Sarah nunca foi forte. Sempre foi aquele mulher "sim senhor". Aos sete anos perdeu a mãe por uma infecção não tratada. Assumiu algumas responsabilidades de casa enquanto via seu pai definhar noites adentro tendo por companhia conhaque e Mercedita Bardô, puta pobre da rua Laranjais. Aos treze, conheceu quem seria futuramente meu pai, Lázaro. Ele não era muito bonito, mas tinha um charme de chamar a atenção de qualquer moça que com ele conversasse por um minuto. Casaram meses depois com a promessa de constituir uma imença família.
Ilusão. Um ano depois quando, por não conseguir engravidar, Sarah procurou um médico para verificar sua infertilidade. Daí pra frente ela perdeu o gosto pela vida. Papai nada dizia, só a olhava choramingar pelos cantos da casa e saia para tomar um ar que se assemelhava aos que vovô tomava. Três da madrugada, acordava mamãe para encomedar o bebê. Isto tudo vim a saber por uma vizinha de nossa antiga casa que era confidente de Sarah.
Quatro anos depois nasci. Para Sarah foi uma felicidade só. Papai, já cansado de ouvir sussurros dos amigos sobre sua esposa, foi comemorar com ela, comprando meu berço. Nasci de um parto normal trabalhoso, dizem que Sarah sofreu muito. Ela cuidava bem de mim, mas papai fazia todas as minhas vontades. E por isso sempre existiam brigas.
Quando eu tinha sete anos ouvi uma discussão feia dos dois. Sarah gritava com meu pai, dizia não suportar aquela situação, queria que ele escolhesse seu destino. Papai bateu nela, mas da forma com que falava com ele, acho que foi merecida a surra. Não que eu seja a favor da violência, mas ela é muito difícil. E papai teve que ir embora sem ao menos se despedir de mim. Culpa dela, que não soube conversar. Se ela tivesse pedido com jeito, nunca mais papai chegaria tarde.
Quando eu me casar, se acontecer, tomarei as rédeas de casa. Não serei submissa a homem nenhum, não quero agir como Sarah que foi encarregada a vida toda e falou mais alto na hora errada. Não quero que meus filhos me vejam assim.

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