domingo, 28 de setembro de 2008

Sábado primaveril

Uma pequena mesa ao canto da sala. Duas cadeiras desordenadas da composição de outras. Talheres fora do lugar, taças de Trignon com linearidades diferentes e uma suave marca vermelha em uma delas - pequeno descuido. Flores ao lado de uma lacrimosa vela central em meio à penumbra do cómodo.

Um longo corredor. E um suave som que preenche todo o apartamento. Um não, dois...

Quadro abstrato à parede. Janela aberta, cortina à dançar por sobre a noite enluarada. Desordem ao chão, lençóis revoltos...

Uma pausa.
Uma quietude.
Um suspiro. Um não, dois...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Resposta aos teus atos.

Querido Armando.

Ouvir aquelas palavras foi o mesmo que ver-te em um caixão. Em mim, foste cúmplice. Em tuas mentiras, encoberto estava o que de real fizestes com o amor que teimavas em dizer que vivia. Não sei as palavras a que usar para dizer-te: serena paz dentro de mim!

Mas quanto sinto por ti: de mesquinharias, os dias vividos. De fugazes momentos, as horas, agora, eternas jazem. Borbulham, bem sei, por dentro de ti, as cicatrizes de teus atos.

Galopo alto, rastejas tú. Não queria. Não preciso desejar-te assim. Concretiza-se por fuga de meu querer.

Desejo apenas que tenhas paz. Eu tenho vida. E me basta saber vivê-la com graça e respeito aos que ao meu redor se encontram.

Quero que saiba que as lágrimas que chorei, embalaram-me com ternura. O que fizeste maldosamente , formiga teu viver. Sei que de cãimbras teu penar reforça. Teus atos, a ti pertencem! Não culpe a outrem por pedir que se afirme perante os teus. És senhor de teu próximo dia. Não penitencie-se por minha descoberta. Sei que teu viver, açoita-te a cada vez que minha ausência é sentida.

Pena não sentir nunca mais (afirmo-te com a mesma certeza do ar que respiro) o respeito que outrora lhe devotei. Sossegado está meu coração; decepcionada, minha alma; grandioso, hoje, meu viver. De sincero, concluo: que descubra-te com a mesma potencialidade que um dia acreditei existir em ti. És capaz de ser melhor. E serás!

Sempre,
Paula.

sábado, 6 de setembro de 2008

Palco de múltiplas verdades



Fiz de meu caos
caverna submergente deste instante.
Escondo-me não onde sei.
Onde não estou.
Ali, cujo alcance subterrâneo
me enterrei.
E onde ei de permanecer
até quando não mais sei.
Vez por outra
à tona venho
sem que eu permita.
E vasculho bugalhos
das migalhas que ainda restam.
Bosso velhas metáforas -
morfina instantânea de fugaz
quietude e calmaria.
Quantas 'inda serei?
Neste palco iluminado por sombras:
assassinas de uma verdade
morna e embasada...?


 
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