segunda-feira, 26 de abril de 2010

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Quero uma página em branco para te escrever. Sorria.

Não sei de seu nascimento, apenas que recebeu uma mística pedra que carregaria por toda a vida como um amuleto de identificação entre os seus e os outros. Se fez quase ateu, não fosse pelas orações baixas que fazia em casa, tentando se esconder da vergonha de dizer que não acreditava no que não acreditava existir.

Cultuava um jeito contraditório que causava certa paixão em mim. Uma dualidade entre o gostar de ficção quando era um nato romancista me trouxe aos dias em que estivemos juntos um não saber quem era aquele que um dia estava e em outro, quem era aquele? E isto foi permanecendo em mim.

Em casa, só, questionava seus pensamentos, sentia-se e não gostava. Entregar-se a si seria penoso demais - refletia. Eu olhava aquilo tudo de longe, encostada na porta da cozinha, cigarro acesso ao céu pensando o que ele poderia querer. Não entendia onde eu estava naquele mundo. Olhava, eu o olhava sentando à beira da cama, corpo ereto a flertar ao lado. Me aborrecia, eu me aborrecia por nada. E recebia um afago como se afagasse um bicho, dizendo “aqui” e eu aquietava.

Um dia pensei em não ir, só para ver se ele deixaria que eu ficasse. Era hora de ficar e ficar em outro lugar. E ele, andando de um lado ao outro, entre beliscões macios e sorrisos violentos, disse nada poder fazer pela falta de poder converter caminhos.

Em um instante, mudou de gosto, desiludiu por motivos outros que não esses, se irritou, penteou meus cabelos com as mãos, sorriu, me abraçou, disse que, me disse tanto, tantas palavras, eu sorri, mas não acreditei e feliz me fiz. Esperei mais uma semana.

O nome que carregava refletia a instabilidade contrária de ser um alívio a quem nele tocasse, pois dizia de mau humor sempre que o mundo andava contra o que havia pensando acontecer – e isto aconteceu quando eu disse que iria partir. Ele se irritou, eu não entendi, e me enraiveceu, e eu me descobri apaixonada como uma pedra lavrada pela água que por ela passa como uma tromba d’água (trombas d’água não lavram pedras).

Naquele dia, eu só disse “eu queria que...” e “ eu queria dizer mais, mas sou melhor com as palavras escritas”. E fui embora, mas ele, já tinha ido antes – achara meu bilhete debaixo do travesseiro, com as iniciais palavras “eu vou te deixar”.

6 comentários:

Flaveetcho disse...

Ain,
que lindo.

Como sempre né?
Xeeero :*

João Rafael disse...

Quanta falta estava me fazendo...enquanto um deixa, outro volta...

****Josi**** disse...

Nem falo nada, lindo é pouco...
Nem posso mais dizer que me surpreendo com você Fê, isso já é clichê :-)

Mas que parece definição de geminiano, AHHHHHHHHHH parece...

:.tossan® disse...

Segues a poesia com retalhos do tempo. Lindíssima! Beijo

Gleidson Tadeu disse...

Texto lindo.... tomara que esta pagina que vc ira receber possa ter meu nome... (kkkkkkkkkk)
Muito lindo
parabens...

Anônimo disse...

Muito lindo :-)
To te seguindo

 
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