domingo, 29 de junho de 2008

Caminhada rumo ao mar

Saí para pescar estrelas. O teto de meu pensar carecia ser iluminado. Seu azul, céu monótono, sem nuvens e brilho.
Apunhei a vara às costas e sai por uma trilha longuínqua, cantarolando versos extensos. De um lado da estrada girassóis banhados por uma lua cintilante. Do outro, damas-da-noite irrigadas por raios solares.

Parei a observar um pouco a lua: cresci acreditando que somente o sol era capaz de dar vida àquelas flores amarelas. Não era verdade.

Resolvi então apanhar alguns girassóis para fazer companhia às futuras estrelas e continuei a caminhar. Borboletas surgiram ao meu lado e sete pousaram nas flores. Sorri e deixei que elas me acompanhassem (é bom ter companhia).

Parei para descansar e adormeci: enfim meu encontro com as estrelas. Joguei o anzol e pesquei sete. Me fartei com o brilho delas. Voltei para casa.

Peguei as estrelas, os girassóis e as borboletas. Enfeitei cada cantinho com uma certa melancolia. Qual não foi minha surpresa ao terminar o trabalho. Meu pensar estava vermelho,sem nenhum vestígio do que havia sido apanhado: dois mundos estavam projetados claramente, como se no espaço assim existissem. Corri e resolvi trancá-los.

Girei a chave e saí daquela casa.

Andei um pouco e encontrei um hall de mármore branco, comprido. Meu pensar estava seco. Carêcia chover.

À minha frente, escadas iluminadas rumavam a uma platéia. Ao som de uma orquestra, recebi um presente, como uma brisa suave e calorosa: Vivaldi, com o calor de seu Verão.

Meu céu rapidamente ficou escuro e logo comecei a chover. E fui me purificando, o fogo que me queimava ia se apagando lentamente.

Ao meu lado surgiu uma ventania para ajudar a chama a se apagar. E de um lindo barco
branco, surgiram essas palavras: "Não há como não se emocionar, não é?". Sorri. E como a muito não permitia,deixei que aquele barco navegasse pela minha chuva até que o gotejar do sol da manhã o fizesse voltar para casa.

Sorri intesamente e aceitei uma bebida. Até o sol raiar, e o barco voltar para a sua praia.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Passos do acaso

Sentada à mesa da cafeteria ela estava. Degustando gotas doces da bebida que a fazia lembrar os dias amargos. Suas observações fugiam ao local em que ela se encontrava. Se ia e voltava como que por tele transporte.

Ao balcão, ele sorria a olhá-la. Sua presença não havia sido notada. E ele aproveitava esta não percepção para ocasionar seus pensamentos. Ansioso, esperava os acontecimentos da noite.

Então, entre uma ida e vinda de seu pensar, o olhar dela encontrou aquele que a sugava do outro lado da cafeteria. Trovões surgiram dentro de si. Cobriu-se de um sorriso que exigia ser decifrado. E pensou, irritada, quanto tempo ele estaria ali a observá-la sem que ela o percebesse. Teria agora que jogar com o acaso, e isto quase a deixou preocupada, não fosse o fascínio que sentia de arriscar as possibilidades deste encontro casual.

Deixou que todos os jogos de sedução fossem encenados. Brincou com as chances de se permitir, de ser deixar ser levada. E de se redimir consigo.

Havia chegado a hora. Levantou-se da mesa e por ele passou, como se nada houvesse acontecido. Parou na mesa de outros homens para pedir uma tola informação. Saiu à rua.

Ao seu encontro ele foi e ouviu:
_ Não Pablo. Hoje não. estou assim...nauseada de tua presença. Já tive o que queria desta noite. É melhor você beber um pouco mais. Estou indo.

E o deixou.
Rubro, apanhou o descaso e se cobriu. E reafirmou seu desejo. Era assim que ele a amava.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Renascimento

Canta, grita, geme, cala.
Fala!
Faz do erro o primeiro declive
para o ápice do fracasso certo.
Da escolha errada.
Do elevado espiral de tristeza
rumo
à solidão.

Sente...delicadamente.
A minúscula, intensa e
inerte sombra do dia.
Passa...
Acalenta e embala...
Sopra.

Prende dentro de ti
o estrondo vazio que
nada diz, que a nada leva.
Leva, purifica.
Passa!

Renasce.
E sorri lágrimas vívidas
de um choro de luz.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Para viver mais

" Virem mares todos os sertões/que choram pedras aqui dentro./ Pra esse fogo que queima tão lento/ Vento, vento, vento". Vander Lee

Sofia estais presa.

Luz, voz, sons, multidão, alegria. Brindemos a vida! Sejamos felizes, dancemos a música que nada diz. Feche seus olhos, respire fundo. Queime por dentro.

Sofia estais livre.

Silêncio, vazio, solidão. Um barulho dentro de ti. Eu escuto, fique quieta! Percebe? O que grita dentro de ti?

Sofia és feliz?

Não desmaia, pensa! O que há com você? E as celebrações, a alegria, tudo roda, roda, roda. Por que não sorri?
Abra os olhos, esquece a multidão.

Sofia, o que procuras?
Sofia, o que está fazendo?
Olha pra mim, olha agora!


Levantou, tomou rapidamente seu café. Pegou sua pasta, seu casaco e desceu correndo as escadas. Precisava correr, mas sentia que deveria aproveitar mais um pouco do vento que insistia em fazer dançar seus cabelos. Não podia. Havia que correr ao encontro de sua alegria, do que realmente importava.
Começou a sentir uma correria dentro de si. Uma agitação conhecida, mas sempre nova, diferente. E começou a queimar.
O fogo começou a consumir sua cabeça e foi descendo por todo o corpo. Ninguém notava nada. E não era um fogo de purificação, mas de verdade, de espelho. Queimou até sobrarem cinzas a flutuar pela cidade.
Parou na calçada a descansar intensamente. Chorou e entendeu seu verdadeiro significado. Quem realmente era.
O fogo não purificou, mas as cicatrizes sim. Marcas que não serão apagas, não serão vistas. Retornou para casa. Para internamente descansar.

E a cidade continuou a comemorar o momento, o efêmero, o impalpável. Sem perceber que a poluição cinza que se fazia presente eram traços de abraços perdidos, de uma insensata sede de ser feliz.
 
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Degustação Literária by Fernanda Fernandes Fontes is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.