quinta-feira, 30 de abril de 2009

À tua graça

Para um querido amigo, com carinho.

Ao sorriso, que tem como fardo, homem;
Ao homem, que tem como sorriso, fardo;
Ao fardo, que tem como homem, sorriso.
Leve dom da graça
de sua lírica identidade:
graça do sorriso.
Farto.
Leve fardo preso a ti.
Aqui dentro gravado
a fardar meu extenso
berço de palavras ditas.
Sorriso farto.
Largo.
A me alegrar reminiscências
sempre que ao vento digo.
O nome que me encanta o riso...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Lembrança

Eu te amo.

Me inquieto de você. Te busco em minha falta de sentido,no irreparável grito cúmplice que me acompanha em um doloroso prazer há tanto sentido. Preciso que me cale a dor incessante que inflige ao meu sentir uma permanência de vital perenidade. Serás capaz?

Eu te amo.

É do sussurro que preciso. Não das honras e glórias cotidianas. Do alcance do trabalho, das necessidades dos homens comuns. Das conquistas que nos fazem maiores para os outros. Eu preciso do teu acalanto. De todos os clichês dos amores, da fuga à tarde, do segredo no olhar que antecede um sorriso.

Eu te amo.

De vontade despretenciosa, mansa, lânguida. Da pequenez de meu eu em teus braços. Do aperto de sentir-te envolto a mim, em silêncio. De tua mão a acarinhar meu rosto, meu sorriso, a percorrer meus lábios, a transcrever meus desejos de tua presença.

Eu te amo. E disso não esqueci.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Parangolé de mim

Vem me contar notícias de lá. Vem me abraçar com a compreensão de quando me olha e lampeja: entendo. Sabe, os ares por aqui não são os mesmo de lá. Aliás, lá anda abafado. O tempo sempre cinza, o céu...nem existe mais! Agora é assim, a gente olha pra cima e não descreve. É.

Eu? Às vezes eu caminho na estrada, saí do acostamento. Gosto de ver os faróis brilharem aos meus olhos, e já que não venta, passo rente aos carros pra sentir a brisa das estrelas perto de mim. É engraçado...mas dói. E fica mais engraçado ainda... Ah, e por falar em estrelas, não acredito mais nas cadentes. Um segredo: elas não realizam desejos, me enganaram...você sorri? É verdade, pergunta praquela ali...

Um dia, eu vou conseguir. Sei que sim, viver assim não é bom. Mas dói, sabe?! De novo. É sempre assim....Ele? Ah ele me faz sorrir, é uma graça! Mas não me transcende a alma . É, eu sei. Mas o que que tem? Se fui eu? Não, não fui. Sim, é isso: que fizesse algo. Pois é.

Eu não sei. Não consigo. Está mesmo, e quando o tempo fica assim reflete em mim. Muito, muito mesmo. Não, não importa. Eu? Demais, todo dia sem faltar um. Ainda, até hoje. Foi. Não, não mais. Também acho, se fosse... Queria demais, ele iria adorar. Lembrei sim, e adivinha? Sempre.

Agora eu preciso ficar aqui. Eu sempre fico. É, deve ser por isso sim. Esconder? Não, engolir, até morrer com meu veneno. Até.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Alento

Uma canção nesta noite cantei. Acalanto lacrimoso de sangue que não chega ao chão. Gotejo um brincar derramando nas suas e minhas mãos um desaguar de notas rubras, vergonhosas, traiçoeiras.

A canção me deitou ao chão molhado pelo orvalho frio, lambidinoso que me toca a pele. E o sangue de mim, amassei com o coração embebecido de razão, que grita a dor que unge meus dias. Ah!, essa lamúria que não cessa, esse desespero homem que não cede à minha tortuosa fuga.

Ressurge diariamente e me faz negar o que ainda me grita: as mentiras que canto, são para esquecer o que a todo instante me vem em dó maior; notas que adubo, mortas. E meu clamor, cântico circular que de mim sai, mas fica, não chega onde precisa.

E em meio à noite escura, olho para o céu. Ele também sangra e goteja. E me pergunto se ai também assim ele se apresenta.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Desespero

Escrevi todas as letras
Busquei sentidos que não havia
Gritei aos deuses o encontro do
entendimento.
Mas nada
Nada, nada!

Me ocorreu sair pelas ruas veloz
Adentrar becos sombrios
Beijar o homem
Despido do fato.
Mas nada
Nada, nada!

Resolvi não pensar
Me aventurar em ladeiras
Cegar-me às luzes
Esfolar meu querer
Mas nada,
Nada, nada!

Nada de tua força
A dizer que tudo importa.
Nada de mim em ti,
Nem um querer concreto.
Somente um nada,
Mais nada.

Nada de teu encontro.
Nada de tua chama.
Nada de quietude.

Meu fim.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Insensatez

_ É vermelho.
_ Não, é azul.
_ É vermelho.
_ Não, é azul.
_ Então descreve.
_
_ Descreve a cor!
_
_ Fala o que é a cor.
_ É azul.
_ O que pra você, é o azul?
_ É o meu sentir que lá está.
_ Feche os olhos.
_
_ É meu sentir vermelho.
_ Mas é azul.
_ Descreve o que sente, cria!
_ O que vem de tuas letras, é difícil.
_ E teu azul é uma ilusão.
_ Teu vermelho é uma mentira!
_ É a descrição do que vivi sob meu olhar.
_ E as letras difíceis?
_ Se o que escrevo é difícil, é porque sinto difícil.
_ E quanto ao vermelho?
_ É por si, nada posso com ele.
_ E o criar?
_ O criar? O criar doí a dor que há em mim.
_ Você não percebe.
_ Eu sinto o perceber.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ir além dos sentidos

Noite alta se apresenta. Rabisco frases dispersas que dizem por si o que se prende aqui dentro, sem que o queira. Alma despida descortina uma nudez vívida de definições paralelas: ordeno a minha permissão a se fazer presente. Agora! Balanço leve ao som do que cala. E assim, ao vagar pelos limitados baços cotidianos em que clausura vivi por tempos remotos, brota e nutre ensejo claro aos olhos meus; e em um deleite harmônico de sinestesias degustativas, me embalo em paradoxos paralelos. Cumpra-se o acompanhamento, emparelha-se destino.

Sussurros noturnos paralisam meu caos.

Caminho a passos de lampejo, sinto me acompanhar breve instante de calmaria e desconcerto... Luzes se ascendem e apagam, como vagos-lumes que direcionam meus passos. Mapa entregue aos teus olhos. Limiar que alinha meu viver ao teu. Sabor.

Soturnos deslizes premeditados.

Meu aroma segreda à tua percepção: enigma que penetra a pele através do mar que inebria meu pensar. Alcança as profundezas do que beira a inconstância do que virá. Nossas mentes são palcos solitários. Nossos dizeres, dispersos pelos múltiplos entendimentos. Que esta não seja minha sina; que o motivo do meu desabafo ceda à calmaria de água nascente. E que desça cachoeira...e que inunde tudo o que aqui está.

Para ouvir Ir além dos sentidos

domingo, 12 de abril de 2009

Sua

"Todo o existente nasce sem razão, prolonga-se por fraqueza e morre por encontro imprevisto".
Sartre

Sua falta de jeito em lidar com o mundo; sua fuga no olhar - que não vem - quando encontra o meu; sua transpirante timidez em que me adentro...

Não gosto do que tu és. Eu gosto do que sou quando em ti. Da força que me vem, do meu domínio, das fronteiras que ultrapasso. E do seu gosto. Do seu pedir mais. Sorrindo, impero sob tua quietude, digo chega! E eu gosto. E você, pede mais.

A melancolia que pende em teus ombros; a surpresa de ver-te sem roteiro, sem rima; o gozo do gosto teu sob meu reino...

Lambuzo teu olhar e me fortaleço com o não saber de ti. E o som aumenta. Ele me fala, eu não quero saber! Eu quero você, e não ele. E mesmo sem saber você gosta. E pede mais. Mais de mim. E eu gosto. E me dou mais e digo chega! E você pára. E vem...e eu gosto. E você gosta. E pede mais...e eu vou. E eu sou.

Sua.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sentença

Está clara como a madrugada de março;
Silenciosa como a mudez do telefone;
Imersa em remédios que não chegam à alma;
Ditas ao movimento do carro a negar o fato e a reforçá-lo ao imaginário do outro -
que segundo os dizeres, sempre o cria.
Ato consumado.
Confirmado.
Houve traição.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Apoteose

Inspirado nas belas imagens do Sr. do Vale.
Empunho estandarte
De vontades infindas
Em praça pública.
Ah, se soubesses que
Minh´alma flameja
Pelos espirais de teu
Corpo, entrarias em
Mim feito apoteose
Nas plagas dos prazeres.

Fantasio-me de lânguidos
Segredos para descortinar
O céu rubro de tua face.
Na enxurrada de cores,
Confeito-te d´amores
O eco do que guardo
A noite pra ti:
na sinuosa avenida
desfila meu desejo.
Saciai-o!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Tango

"...quando você faz a minha carne triste quase feliz..."
Zeca Baleiro


Se postaram frente um ao outro não respeitando o senso da boa distância física. Fincaram olhar que alienava tudo à volta. Até que um deles fugiu em um golpe de retorno, em um virar de face que negava os dizeres dos olhos que o delatavam. De seu próprio relato ocular; sua confissão.

Ao meio sorriso estava; ao sorriso do abismo que gentilmente conduzia seus passos; ao braço cujo corpo ofertava costas ao outro peito.

E rodaram gotas de sangue em um ir e vir de força que mescla um espiral de amor e amor.

Giraram até quando não mais sei.
 
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