segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Terra de ventar vontades

E eu que precisava do silêncio do mar, mergulhei tão fundo que o ar me faltou. Necessitei me abraçar e olhar todo o azul, ali, embaixo d'água. Precisei morrer em mim para perder o peso de meu corpo leve. Para que pudesse, em meio a vida, à tona retornar. Morta. E ressurgir ao calor do sol.

Feito.

Mas a intensidade dos raios era tanta que me cegavam enquanto vida me davam. Mar de infinitas ondas. Pressinto terras, as desejo aos meus pés. Sei que há conhecidas, por conhecer e outras que creio já ter pisado. E uma briga de ventos se faz, cada qual a tentar à sua terra me levar. Mas resisto. Ainda não é o horizonte que procuro. E sigo boiando, a me aproximar e remar em pensamento sentido contrário. E a ir e vir, ir e vir...

Canso.

Me verticalizo então, olhos a procura. E encontro. Ao longe, extensa, à minha direção. Mas novamente, como sempre de desejo meu, não há vento que me leve a escolha minha. Preciso seguir a sua direção, nadar contra a forte corrente.Ventos não entendem o que sinto. E não há força que me faça seguí-los.

Eu preciso ventar.

Sobre a terra de meus olhos, talvez me receba, ou não. Lá é localidade que desejo repouso. É a terra que me chama, a que clamei. Não é a mais próxima, não a mais fácil de alcançar. E o que busco é oposto ao que me distância. Aflições de saber se até a ti chegarei.Vejo-te. E sinto braçar sem que saia do lugar. Me mandas uma brisa - não vento -.... Seja abrigo de meus pés.

E o mar.

E o céu em mar se fez. E o dia, não sei. Somente o momento de dia, é que certeza tenho. Que chegue.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Das felicidades

Se sentou na grama. Abriu a bolsa, pegou a câmera e a fez de olhos. A lagoa era clara, o dia leve. Haviam namorados, crianças correndo. Suspirou alegremente e clicou todas as cenas. Fechou os olhos e respirou fundo. Estava feliz por estar ali. Por toda sua andança, caminhada. Seus desejos se concretizavam. Beleza presente em seus dias, quietude movimentada. O prazer do trabalho, das tardes de conhecimentos múltiplos. Das adoráveis presenças, boas conversas.

E a lagoa sorriu para ele. E ele sorriu à lagoa.

Subiu à bicicleta depois de gracejar um sorriso à moça que lia encostada ao tronco do ipê. Sentiu não fotografá-la. Mas a gravou em retina. E pedalou por entre a tarde, felicitou o viver. Cantou e dançou o sentido da vida. E pensou nas flores que haveriam pela noite que chegava de mansos passos de sol poente...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Ao meu Zé

...meu coração decresce a cada suspiro de saudades. Chora meu peito ao som da canção que se calou. Sinto-te ausência nesta tarde bonita. O dia tem a sua lembrança.

Faz ano de tua partida. Mas te tenho como ontem, em teus olhos os meus, minha face. Teu permante carinho acolhe a falta que sinto de ti. Choro por ser esta minha essência. Sei que nada escolhemos, a vida ruma por si. Não nos obedecem quereres e vontades.

...e eu sentia forte teu amor por mim. Jamais esquecerei das vezes que dançamos juntos: de teus dizeres e de tua felicidade. Queria que estivesse do meu lado para se orgulhar de mim e me cuidar tão bem como sempre o fez, com os mais simples gestos.

Ao escrever-te digo aos que sinto:

Jamais esquecerei os banhos de mangueira no quintal, a ida à montanha observar os carros que lá embaixo passavam, sua risada a me contar um segredo e o sorvete na praça. Não quero rebuscar palavras, escrever bonito hoje. Só quero que saibas....

A lembrar-te em canção...

Zé (Liminha e Vanessa da Mata por ela)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Final de ano

Queridos!

Estamos próximos ao final do ano, já sinto o cheiro de Natal. Aos que me conhecem, sabem que este mês causa inúmeras sensações em mim. Algumas felizes, outras não...

Este foi um ano de mudanças profundas, de despedidas e de grandes encontros. E é sobre isto que venho falar, das maravilhas que me foram apresentadas, muitas, por este espaço. Aprendi muito aqui, me encontrei e me perdi. Sorri, chorei e sempre quis mais. Aliás, quero.

Meus desejos a queridos amigos:

Ao Flavitcho, um balanço debaixo de uma gigantesca árvore em um fresco quintal; ao Euzer, a eternidade de Pepe, mesmo que em sua pele, suas palavras ou gerações; ao Hilário, caleidoscópio cheio de estrelas para que seja madrugada clara mesmo ao meio dia; para Filipe, uma exposição de letras às suas mágicas mãos; ao Alam possibilidades e levezas; à Ana Lúcia, mãos hábeis a desvendar olhos tapados; ao Rubens, dias de 30 horas: que descanse quinze, seja artista em dez e trabalhe cinco; à Dani, o registro de sua intensidade por um verdadeiro amor; à Martha, artes às mãos; carpintaria à Flávio Circini, para que talhe cedros em letras e letras em poesias; e ao João Rafael um cubo mágico de artes infindas.

A todos que acompanham este blog, que passam sem que se mostrem, que deixam comentários, que mandam email's (e poemas especiais!), obrigada pelo carinho, atenção e leitura. São Paulo, Rio de Janeiro e Portugal, adoro vê-los quase que diariamente por aqui. Estou feliz por ter vocês comigo.

...para nós, todas as felicidades!

Um forte beijo e um desejo poético de permanência em 2009. Reencontros, experimentações e todas as letras.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Querem me amar

É inútil. Teu canto não ecoa, não estronda aqui. Não ressoa em mim voz que diz de meu querer. Sabes bem que inexatas, quando de outras já por ti possuídas, são minhas vontades. Você não é gruta de lavrar fogo, onde abrigo morada. Antro de busca que almejo e vejo ao longe; caminhada inda a percorrer e calejar minha ânsia.

Meu erro de permitir ponte sem chegada me causa moléstias pelos atos que encenei a brincar com as horas, a me afirmar presença. Não dançavas comigo, era outro o seu tom. Pensei que teus olhos brilhavam pelo segundo, não pelo tempo. Sinto-te o sofrer, pois já estive nele. E por tal, lanço-te nãos para que submerja a ponto de bater os pés no fundo, e de relance, à tona respirar. Para sentires vivo e dominador de ti.

Porvir uma flor para teus dias, creio de certeza. Amparo para teu amor. Ecoarás o que de teima ofertas a quem de zelo recusa. Daquele canto obtuso que muitos tentam escorar, a ti não é permitido descanso. Não cabes lá. Há infindas diferenças a negar o pedido. Sabes bem que os caminhos à minha pulsação são de labirintos, poucos os que nele adentram, necessitam valentia, impulsividade e algo que só eles têm, sem que saibam - falta-te.

Já te segredei, sem saber as vontades, das minhas com outro. Se o fiz, por ausência de percepção, era para que auxílio me desse, incentivo queria de ti. Mas se é por isso que calaste, não mais escutarás meus desejos.

Siga e seja.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Manhã

Acordei com vontade de dizer que te amo. Não levante, permaneças na cama. Quero ver-te os olhos fechados de sonhos calmos. Seguir sua leve respiração com meu ar cardíaco acelerado. Passar a mão em teus cabelos, sorrir. E saber que o instante é maior que toda a vida.

Quero meu rosto roçar à tua áspera barba por fazer. Vê-lo sem a pressa dos dias; despertar, me puxar e dizer "não me deixa...", sem perceber que o disse ao sussurro de gesto. Me embolar em ti e permanecer. Apenas.

E de beijos raiar teu dia. E de preguiça ficar contigo sentindo-te. Adormecer.

Suponho-te pele leitosa
vermelha ficar à sofreguidão
do embalo;
os olhos atados
à moldura da cena.
Estreito adentra-me
oceano de sutilezas.
Sentir-me em espírito
e particular essência.
Apagar a luz do sol
com a penumbra de teu
corpo lânguido.
Calmaria vital
de cor e de ar.
Manhã.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Pedro

Hoje vi Pedro.

E me abri em lábios de sorrisos! Ah! Quanta beleza há na janela azul a me observar...para ti Pedro, todas as permissões. Tua imagem incrustada, agora, à minha rota. És chuva chovida em meu olhar; é mão no peito a sentir o bater do coração. Escuta...tem o som de teu tambor.

Hoje vi Pedro.

Quando da vez que te vi primeiro, em mesmo segundo te reencontrei. E agora aqui estás... e todas as distâncias menores ficaram, quando em ti.

Sabes o que me encanta à vista, Pedro? Tua dor drummoniana e a marca em teu rosto. E agora és água a sedentar meu seco viver por isto. Fizeste o dia mais bonito, me afoguei em leveza de imagem.

Pedro.

Quero clamar-te, suave, o nome e ir indo, indo, indo, até imperá-lo ao vento a rodar mundo...Pedro....Pedro..Pedro! És o alcance a retirar constância em mim.

E roda de dor, de arte, de vida. E teu querer foi meu. E tudo se fez certo.

sábado, 29 de novembro de 2008

Poesia visual


Hoje a minha poesia se faz pelos sorrisos aqui presentes. Tarde de sexta em encantos. Parques, praças e felicidades. Porque o trabalho pode ser poético, como a poesia, trabalho.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Às quartas

Às quartas ele a amava.

Quartas eram dias monótonos, de solidão. Dias em que não haviam festas,em que os amigos não bebiam álcool. Às quartas eram dias pequenos. Não em sua dimensão, mas em sua significância. Não havia música, não havia companhia.

Às quartas ele a desejava para o sempre.

O trabalho não passava, o chefe estava sem humor. O livro, cujos capítulos eram devorados nos dias outros, neste não prendia sua atenção. Seu corpo se curvava, pois estes eram dias quentes, dias de abafamento. Não havia ainda a expectativa dos bons fins de semana de celebrações, nem o recomeço de uma semana promissora. Às quartas eram metades. Não importavam.

Às quartas ele lembrava dela.

Às quartas não tinham importância. Às quartas não tinham sabor, não havia nada para fazer. Às quartas ele era detestável. Às quartas eram dias de questionamento e preguiça. Às quartas ele a queria, mas somente por ser quarta. Só neste dia ele a amava.

Assim ela era importante. Assim como às quartas.

Ela? O detestava neste dia. Nos outros, o amava tanto que se tornava quarta no querer dele. E com isto, vivia sempre uma quarta-feira. De quinta a terça ela não se valorizava, não cuidava de si.

Dizem os astros que quando o dia 3 cair em uma quarta do segundo mês, ele a pedirá em casamento. Serão infelizes para sempre.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Enigma

Minhas mãos pela áspera face sua.

Alegro-me por presença, mesmo que por pensamento seja. Tua contemplação faz clamar meu olhar a retirada do véu que presente se faz. Te quero desvendar a alma. Teu mistério clareia, reluz. Envolvo-me por enigmáticas órbitas de inúmeros pensamentos . Bailo ao imaginar-te visão.

Tua áspera face por meus lisos lábios.

Pra ti:

Rosto de múltiplos dizeres;
O vir será de calmaria.
Suave, chego-te por
janela aberta
se desejo for vontade.
Abertos meus braços,
meu colo.
Repousas em mim
peso, verdade e beleza.
Inscreva-se sabor
à nuca ofertada,
faça-se em mim.

Pra mim:

Frescor de palavras
claras que intimam
um leve e atroz desejo
que cria o
empírico
dia que virá.
Raiar da clara lua
nua
breve
incessante.
Água.

Que seja o que for, o que quiseres, o que eu quiser!

Decifra-me.

Que te devoro.



Always in my heart (India Aire)

domingo, 9 de novembro de 2008

A dois - Fato

_ Te quero névoa!
_ Me vejo brisa!
_ És linda...
_ Tua imagem de mim diz...
_ Me faço semente!
_ Terras secas não fecundam...
_...me faço flauta...
_ Só ouço tambores!
_ Te faço um verso...

_ Devolva minha alma! Ela não é tua.
_ Há desejo de descobrir-me ao teu viver
_ Ao som da flauta?
_ À tua canção rítmica.
_ Me alivia?
_ A dor te desvia.
_ Só ela me guia.
_ Desvenda-te...
_...pela aparente vontade...?
_ Estás gravada aqui.
_ Tens pedaço de minha dor em ti.

_ Absorvo o que transparece.
_ Letras convexas vislumbram abstração?
_ Fôrma de invenção!
_ Enamoro-me de mim...
_ Alimento-me de teus versos
_ Seria intenso...
_ Belo...
_Curto...
_ Arrasante.

Derão as mãos e seguiram.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Cecília

Cecília sentia-se adormecida. O tempo resolvera ser contínuo, sem alterações temporais que a obrigassem ao aconchego de mantas ou à observância do choro dos céus; pesado não se fazia o ar ou radiante o clarear do calor. O dia era. E só.

Bailavam emoções no corpo de Cecília. Compassada, dançava sem a perda do ritmo. Por vezes sozinha, por outras em termos. Seu corpo era. E só.

Atirada fora Cecília, pelas asas de uma borboleta, ao solo revolto de terra úmida. Amortecida pelas flores que ali jaziam, a nada sofreu. Teu propósito não era. E só.

E era só.

Invadida sentia-se Cecília.
_ Permito o arrombamento!
A chave, deixada por sobre a mesa, girava na fechadura aberta de seus olhos. Não mais só. E era. Cecília. Assim, permanente. Constantemente permanente.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Emulação

Rosas vermelhas já foram belas.

Percebi meu envolvimento quando a vi ao lado dele. Bobos os dizeres que ouvi, cena estúpida e dramática presenciei. Foi quando os raios da negra lua meus olhos cegaram. À direção deles segui.

Grito contido. Um estrondo aqui.

E os carros em minha direção. A todos encarava, passo contrário ao caminho dos faróis. Ando a desconfigurar alma inebriada; pensamentos múltiplos são como catarata aos olhos calejados.

De roupas rasgadas, fiz vida em retalhos.


Rajadas perceptivas modelam meus atos. Meu mundo crio eu. Meu vale, meu abismo; covas lavradas por um passado que se retrata aqui presente. Por outras mãos, outras pás. E as luzes dos carros meus olhos clareiam.

Estrondo.
Socorro.
Piedade.

Bons os momentos ao lado teu. Tua boca, teus dizeres.
Quando de noite chuvosa, desperta-me o calor que o vento frio retira.
Eterno teu amor, meu viver.
Sem horas marcadas.
Apenas você e eu.
Agora, para sempre.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Casualidade permanente

Parecia noite soturna a princípio, mas um clarão alumiou meus olhos. A passos lentos se aproximou, e ficou ali sem nada dizer. Taça à mão, olhar distraído como quem nada vê e tudo procura. Sem que se apercebesse, observei-o em seu vagar. Senti adentrar-me segredo.

Os pés marcavam o passo lento da canção instrumental...Batidas ritmavam-no e meu pensar; e em um deleite breve de espontânea curiosidade, portei-me a sua presença. Certeiro meu agir, instantânea compreensão. Havia um jogo claro, estratégico meu pensar. E deixei-me enganar ao acreditar que os dados em minhas mãos estavam.

Enganada por vontade, por minha permissão. Me deixei ir além. Sim, havia desejo.

_ Poderia, por favor, me dizer o nome desta canção?
_ Desculpe, não compreendi.

Se aproximou um pouco mais.
_ A canção, a conhece?
_ Não, acredito que não. Gostosa.
_ Sim, envolvente - sorriu largo e macio.

Os cabelos, prendi com as mãos.

_ Teu brinco me diz muito de você. Gosto dele.
_ Obrigada, mas não ouço dizer nada - e um gracejo bobo arrisquei.
_ É delicado, atente...diz agradar meus olhos.

Pensei não me envolver, não sou hábil nestes terrenos. Mas quando retornei meu pensar, as palavras foram mais ágeis.

_ Preciso de outra bebida, vou buscar...
_ Não, por favor. Faço questão.

Destilamos fervor de pensamentos e palavras.
Ansiamos versar prosa e entendimento.
Cruzamos metades e aceleramos hora. Felicidades são fugazes. Esta não poderia ser efêmera. Não pelo prazer que tal conversa proporcionara.
Pedi um verso.
Ganhei regular movimento aleatório de eletrocárdio.
Ganhei canção.
Senti.

domingo, 26 de outubro de 2008

El tango de Roxane (Por Jacek Koman e Ewan McGregor)



Gosto da intensidade desta canção. Belíssimo tango! Bailemos!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Plenitude ritmada.

Não mais gladiar batalhas sem o definido
porquê de guerras.
Armas apontadas ao horizonte, meus braços dizem
não mais saber seu peso.
Cansaço, confusão e sangue.
Pedaços são o que restam
para o resto de meu penar.
Digo bandeira branca ao céus
mas teimo em soar o brado
que silencia meu entendimento.
Por hora fico, ora vou.
A galopar em meu cavalo de guerrilha
rumo às ruínas a serem erguidas.
Com a visão turva do que é.
Do que deixo de ser.
E do que sou.

Vento, sopre um pouco
mais perto.

E me inunda um vendaval....
Ar que inebria
os sentidos fragmentados
de um sopro contrário
à pulsação que me leva
carrega,
embalada,
conduz.
Alucinada,
engasga
engole
saliva
respira
respira
respira
aquieta
(sopro)
acalenta
(vento)
suprime
(guerra)
aquieta
(respira)
adormece
(aperta)
sente, sente
sossega
Calmaria.


Riacho de paz
a correr pelos vales
da clara noite leve.
Leve com o vento.
Leve como o vento.

domingo, 19 de outubro de 2008

Musa

Não morra sem que antes tua alma seja cantada por um poeta. Perderias o gosto de se sentir pleno pelos instantes que o gozo literário proporciona a poucas criaturas, fruto das mais belas palavras.

Permita que pelos ares, teu nome seja cantado em versos e notas. Que o poeta te alimente com palavras que toquem teu âmago e o de quem teu nome ressoa.

Se sentirás como se caminhasse pelas horas, passando pela cidade...como se sua alma fosse despida e não houvesse corpo...como se apenas essência fosse.

Teu ser em versos, notas e canção.

Quando de rimas, canta um passado...quando de brancos versos, futuro anuncia...És cor, vida, sinestesias degustativas a preencher paladares sedentos de belas palavras...

Se sorte presente for, terás dois em um momento. Se a felicidade plena te invandir, não somente a alma será cantada...mas a carne. E um gozo de luz invadirá sua existência.

Serás pleno. Eterno. Nada mais.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Arco-íris

" E no final assim calado/ Eu sei que vou ser coroado rei de mim". Marcelo Camelo

Por vezes se faz necessária a face ao chão para que se perceba que pedras não são estrelas. Por outras, joelho machucado, pernas à doer para que se descanse rumo à nova caminhada. Por estas, água límpida a matar a sede há muito sentida. Não mais o sol à cabeça. Agora, vejo-o nos olhos. Encaro-o de frente. E me vejo arco-íris após a chuva. O ouro, sou eu!

sábado, 11 de outubro de 2008

Desejo de solidão

"...Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo." Clarice Linspector.

Quero estar só, tendo por companhia saborosa bebida que alimenta meus versos. Hoje não te desejo, não se sinta por isto. Saia só, dizemos ser bem um ao outro. Mas agora, o bem para mim se faz por meus versos bordados. Pelo calor desta bebida que me aquece. Entenda.

Cansada da presença de todos estou, preciso de mim. De cuidar de meu viver. Quando deste desejo, ouço por outros diferença. Nova é minha vontade. Não busco compreensão, entendimento. Busco concretizar meu desejo, e assim, aqui estou, realizando-o. Quero adormecer em minhas palavras. Bebe-las e ler meu vinho...

Ouço desprezar tua vontade. É cedo para o que me pede.Talvez me descortine um dia,ou canse de me oferecer o que não posso receber. Não seria justo contigo. Minha sazonalidade é o que sou. Nada mais.

Mesmo reclusa, vejo que julgam meu tino. Tanto disseram para florescer esta, que o fiz.Mas por tuas palavras me despertei. E amanheci...não há mal, não há perigo. Agora, só inquietude.

O telefone toca. Me chamam... devo ir, melhor assim.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Quadro

Me pintou em letras.
E retratou os quadros
de meus versos.
Melodicamente, silenciou
o acelerado movimento
daquela cena.
Quadros trocados
galeria invertida.

Musicou o dissabor
das telas abstratas
e delas fez canção.
Compôs o desenho
com a emoção daquele
instante.

Musealizou nosso viver.
Instituiu minha arte
como sua.
Sem temor,
interviu meu amor
e grafou teu nome
no hedonismo temporal
cotidiano.

Arte de viver
e de querer
que o sofisma ceda ao canto
a verdade do sentir.

domingo, 5 de outubro de 2008

Janta (Marcelo Camelo por Marcelo Camelo e Malu Magalhães)

Aniversário do "Divagando e Aprendendo. Ou não!"

Oi gente!

Ganhei mais um presente esta semana. É aniversário do blog Divagando e aprendendo. Ou não! e fui convidada a escrever um texto...amei o convite e claro, aceitei!

O Flavitcho, autor do blog, é uma pessoa muito especial, escreve ótimos textos. Sempre me vejo ali, perdida em alguma de suas frases.

Gostaria de convidá-los a visitar o blog...é muito bom!
Parabéns Flavitcho, muitos anos felizes estão por vir...e muitas divagações!

domingo, 28 de setembro de 2008

Sábado primaveril

Uma pequena mesa ao canto da sala. Duas cadeiras desordenadas da composição de outras. Talheres fora do lugar, taças de Trignon com linearidades diferentes e uma suave marca vermelha em uma delas - pequeno descuido. Flores ao lado de uma lacrimosa vela central em meio à penumbra do cómodo.

Um longo corredor. E um suave som que preenche todo o apartamento. Um não, dois...

Quadro abstrato à parede. Janela aberta, cortina à dançar por sobre a noite enluarada. Desordem ao chão, lençóis revoltos...

Uma pausa.
Uma quietude.
Um suspiro. Um não, dois...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Resposta aos teus atos.

Querido Armando.

Ouvir aquelas palavras foi o mesmo que ver-te em um caixão. Em mim, foste cúmplice. Em tuas mentiras, encoberto estava o que de real fizestes com o amor que teimavas em dizer que vivia. Não sei as palavras a que usar para dizer-te: serena paz dentro de mim!

Mas quanto sinto por ti: de mesquinharias, os dias vividos. De fugazes momentos, as horas, agora, eternas jazem. Borbulham, bem sei, por dentro de ti, as cicatrizes de teus atos.

Galopo alto, rastejas tú. Não queria. Não preciso desejar-te assim. Concretiza-se por fuga de meu querer.

Desejo apenas que tenhas paz. Eu tenho vida. E me basta saber vivê-la com graça e respeito aos que ao meu redor se encontram.

Quero que saiba que as lágrimas que chorei, embalaram-me com ternura. O que fizeste maldosamente , formiga teu viver. Sei que de cãimbras teu penar reforça. Teus atos, a ti pertencem! Não culpe a outrem por pedir que se afirme perante os teus. És senhor de teu próximo dia. Não penitencie-se por minha descoberta. Sei que teu viver, açoita-te a cada vez que minha ausência é sentida.

Pena não sentir nunca mais (afirmo-te com a mesma certeza do ar que respiro) o respeito que outrora lhe devotei. Sossegado está meu coração; decepcionada, minha alma; grandioso, hoje, meu viver. De sincero, concluo: que descubra-te com a mesma potencialidade que um dia acreditei existir em ti. És capaz de ser melhor. E serás!

Sempre,
Paula.

sábado, 6 de setembro de 2008

Palco de múltiplas verdades



Fiz de meu caos
caverna submergente deste instante.
Escondo-me não onde sei.
Onde não estou.
Ali, cujo alcance subterrâneo
me enterrei.
E onde ei de permanecer
até quando não mais sei.
Vez por outra
à tona venho
sem que eu permita.
E vasculho bugalhos
das migalhas que ainda restam.
Bosso velhas metáforas -
morfina instantânea de fugaz
quietude e calmaria.
Quantas 'inda serei?
Neste palco iluminado por sombras:
assassinas de uma verdade
morna e embasada...?


domingo, 31 de agosto de 2008

Mosaico

À porta de casa, deixaram um presente. Abro a caixa e verifico diversos azulejos coloridos em seu interior. E um martelo.

Nos dizeres do papel, conclamado está o ato: "Quebre-os!". E assim o fiz.

Dia outro um círculo recipiente, massa e espátula ali também se encontravam. Um cartão com um desenho nada abstrato. "Figura-te em pedaços, faça-se!", ordenava.

Laboro tendo por companhia o clarão artificial. Vejo - o se apagar e o nascer do natural. E eu ali, a construir-me.

O mosaico se projeta límpido aos meus olhos. Alegro-me por ver que artes saem de minha figura. Muitos passam, congratulam-me pela obra, desejam ajudar-me no trabalho. Oferecem azulejos preciosos para compor-me. Aceito alguns, outros agradeço e dedico um sorriso.

Dias passam, e por pouco o projeto não se concluí. Falta a peça final, que definirá o contorno da forma.

Volto à caixa. Revolvo-a e tento todos os cacos. Nenhum com encaixe perfeito de cores, formas ou textura.

À porta novamente, recebo-te. Fechada. De mistério, faço palavras: quando a casa for reconstruída, quando as paredes receberem novas coberturas, aceito tua oferta. E a forma se definirá. Mas lembre-se: enquanto abrigares nesta casa, a reforma não será concluída. E o mosaico não se definirá.

Retorno à mesa de trabalho. Suspiro e leio canções não musicadas.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Aniversário do "Cedros Vermelhos"!

Queridos!

Flávio Circini, autor do blog Cedros Vermelhos, me pediu há alguns meses que preparasse um texto em homenagem ao aniversário do blog. Muito honrada, vi hoje que o texto foi publicado. Estou radiante, pois este é um blog cujos contos me fazem flutuar. Gostaria de convidá-los a visitar e a deixar seus comentários:
http://flaviocircini.blogspot.com.

Aproveitando, gostaria de agradecer a todos que passam sempre por aqui. O Degustação Literária é muito importante para mim. Fico sempre muito feliz quando vejo a percepção de vocês sobre o que escrevo. Críticas e sugestões são sempre bem vindas!

Agradecimentos especiais aos meus amigos de blog Euzer Lopes (Metendo o Bedelho), por nossas discussões sobre os textos e por suas loucas aventuras (Euzer! Posta mais! Outubro está tão longe rs...), Flavitcho (Divagando e aprendendo. Ou não!), por me emocionar com seus textos, pelos mimos de sempre e agora por nossas conversas; aos meu amigos da faculdade, por divulgarem o blog e passarem sempre por aqui: Catarina (demora a postar um comentário..rs..), Gleidson, Samuel (divulga, mas não lê...rs...)...e todos os que visitam e não deixam comentários! À minha mãe, que o divulga a seus amigos; à minha Tia Vivi, que também divulga para suas amigas; ao Fabrício pelo incentivo à escrita e por tornar o blog internacional (exportação para Juiz de Fora...rs); ao Rubens, pelas análises e por utilizar a obra de Lacan para deixar seus comentários (rs...); Marininha pelas idéias....e muitas outras queridas pessoas!

Gente, obrigada mesmo!

Bjs a todos!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Harmonia

"Necessitamos sempre ambicionar alguma coisa que alcançada, não nos torna sem ambição." Carlos Drummond de Andrade

Quando ele chega, beija calorosamente sua face. Escorrega um pouco mais a cada dia rumo àquele sorriso. Acha-o tão belo que a todo momento motiva-o, mesmo sem dizer palavra. Apenas sorri e ela retribui. Transam longos olhares fixos, dissimulados pela aparente concentração.

A fluência das conversas esconde o recente olá: os assuntos são infindáveis, as horas, escassas. As mãos dançam por sobre a mesa e casualmente se encontram. Rios descem garganta, tamanhos são os desejos... Motivam ocasiões de reclusão, consagram a vida! Assim, harmonizam os dias.

A cada glória vivenciada, presente se faz a vontade de prosseguir... de ambicionar-se um no outro.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Aborto - Final

"A vida inteira que podia ter sido e que não foi". Manuel Bandeira

Tempos depois, em casa.

Seu rosto sangrava. Como se se tratasse de um teatro sem graça, reagia incólume ao ato.

Sinto meu ventre se expandir a cada dia.E me tomar as forças que me fazem viver. Vou me enchendo deste sentimento que não desejo. Deste filho que não nasce, apenas cresce. Até que eu acabe com ele, ou o contrário.

Pingam uma, duas...e o branco se torna rubro à falta de expressão daquele rosto.

Não, não posso suportar . Não aguento acalentar a espera que suprime meu futuro. Acalentar o fruto de um amor que foi desejado, não mais é. Um amor marcado agora por longos silêncios. E pela ausência que me alimenta, fazendo com que meu ser seja tomado pouco a pouco.

Levanta. Rasteja cambaleante por todo o quarto. Precisa passar.

Passo noites embalando meu peito, me sentindo insegura e triste. Solitária. As noites se tornaram exercícios mecânicos repetitivos que buscam explicações, projeções e um futuro. E nada encontra. Vaga, simplesmente. E não adormece.

O céu está ocre. Lacrimejam seus olhos. Ora:

Lânguida em seu terno abraço de candura. Aura leve, passo calmo. Quase um flutuar sobre as brasas intrépidas da existência. Cobre o inverno de minh'alma com a brisa fugaz do que chamo eternidade. Serena, caminhe ao meu lado ao passo desconhecido do que um dia repudiei. Abraça-me... leva-me contigo.

Perturba-se.

Quanta angústia sinto em meu peito! Procuro o ar, não encontro. Corro à janela. Abro-a, o tempo está seco. Nenhuma brisa, nenhum sopro. Desejo voar.

Vo(o)u para o término. Seria um começo.

A terra tem um calor gostoso, me enlaça como em um abraço. Não te tenho mais, ansiedade. Você não nascerá. Agora, descansarei sem ti. Eternamente.

Paz.

sábado, 9 de agosto de 2008

Ação - Parte 3

_ Alô. Estou chegando em vinte minutos.

Desligou o telefone e caminhou para o carro. Não queria saber se ele poderia recebê-la, se estava sozinho, se desejaria vê-la. Precisava dele naquela noite, queria provar a si que conseguia ser mais forte que sua alma. E que poderia esquecer tudo, poderia sentir e deixar quando assim desejasse.

Pensou.

Daria sua vida para que não o tivesse visto. Por quê encontrá-lo assim, daquela forma? E aquele sorriso...ah, aquele que a acolheu um dia. O sorriso em que confiou sua alegria. Confidenciou seu futuro, partilhou seu desejo. Por sua falta, havia enrijecido o seu, antes largo e permanente.

Deixou que ele enxertasse seu coração, tão rasgado por todos os anos. Só não sabia que ele faria isto só para ter o prazer de lapidá-lo a golpes de navalha. Sentia-se presa como à uma corda elástica àquelas lembranças. Conseguia andar alguns longos passos, mas quando pensava estar em outras nacionalidades, recebia uma rasteira e voltava arrastada para o início de tudo.

Verdade era que todos os anos se passavam e ela permanecia. Seu desapego não era real. Gostaria que fosse, mas não era. E sofria por encenar roteiros cujos cenários estavam trocados. Deveria viver para a vida, não para o tempo. Era preciso sentir o seguir...

_ Estou surpreso. E feliz. Venha...

Não permitiu que ele dissesse mais nada. Consentiu afeto a si. Suavizou-se ao sabor dele.
Dentro de si um estrondo não calava.

Angústia.

Continua....

domingo, 3 de agosto de 2008

Reflexão - parte 2

Ao chegar em seu apartamento, abriu a gaveta da cômoda e depositou ali a fotografia. “Mais um homem de papel”, pensou. E viu inúmeros outros momentos que estavam ali guardados. Buscou, repetidamente, como o fazia quase todos os dias, aqueles dizeres em que sentido ainda não via.

Preciso falar-lhe: dome sua vida. Coloque rédeas nela, não importa se longas ou curtas. Guie-a. Opte por escolher, não se engane acreditando que tua existência tem pernas. Ela só caminha por ti. E mesmo que desejas ser levado aos passos do impensar, lembra-te de que não escolher é uma alternativa a ser seguida também. Não há estrada a percorrer que não a tenha escolhido. Não há silêncio que não seja um posicionamento de fala – sim, e são tantos os dizeres presentes na ausência dos sons.

Seja feliz com o que acreditas ser a felicidade. Se não a encontrar na ideologia que há tem ti, pensa. Se a casa construída para o abrigo não possuir teto, não conseguirás descansar em paz, dependerás do tempo sempre. Abriga-te por completo, metades aqui de nada valem. Você é único, os momentos é que diferem. Pensa, não é o contrário.

Acredita. Não espera, busque. Existem raízes por sobre a terra. E elas são sustentáculos também. Não existem apenas as subterrâneas, que nada vêem. As superiores têm a mesma função, é tão importante quanto. E não se esqueça: são superiores, não superficiais. E mesmo assim são alimento, fonte de vida. Estão expostas a maiores perigos, mas se esta é a natureza delas, não há como escapar. O importante é o desempenho, não o lugar. E raízes são raízes. Independente do solo em que estão plantadas.

Quero-te bem. Ressoa estas palavras em ti que elas refletirão. Precisamos ser mais felizes. E tem que ser agora.

Ainda se perdia ao seguir este pedido. Ainda se abrigava em casa sem teto. Amanhã, domaria sua vida, mas vivia sempre o hoje.
Quando se permitia sentir, sentia-se só.


Ânsia.
continua...

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Momento - parte 1

Conhecemos-nos há tempos, mas nos falamos em ocasiões dispersas. E curtas foram as frases. Até que o acaso presenteou-nos com esta noite.

_Preciso ir. Já amanheceu o dia. Você me devolveu o sorriso, e me descobri nova na tua presença.

_Fique um pouco mais. Ainda temos tempo. Não precisa ir. Além do mais, sei que posso te amar. Se você for agora, sofrerei por não ter ido além.

Sorrisos.
_Você não suportaria meu amor. Meu apego, meu querer. Eu o circundaria e você não reconheceria esta que esteve ao teu lado por ora. Você seria capaz de amá-la também, mas não quero vivê-la à tua presença.

_Não importa, fique até minha partida. Depois deixaremos correr as horas, e nosso viver será moldado pelos dias que virão. Nada faremos. A vida rumará por si.

_Devo ir. Não sei até quando serei esta de teu prazer. Amanhã voltarei a domar a vida. Minha escolha é guiá-la, repito: gosto de escrever-me ao que virá...

_E novamente digo: seria capaz de te amar. Permita-me...

O beijei, peguei a câmera em minha bolsa e o fotografei. Passei pela porta que acabara de abrir. Pensei não ser capaz de me amar. E só o permitiria a alguém, quando me encontrasse entre a de ontem e a de agora. Preferi nada sentir.

Tempo.

continua...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Monólogo dirigido ao peixe que saiu do aquário

Ao menos sei que estava certa.

Pouco te olho. Sei que não o reconhecerei se o encarar. Por isto me desvio, me esquivo. Entendo o porquê de não desejarem a procura. Você, que viveu em mim, já não está mais aqui.

Roídos os dias, busca sem glória.

A morte, ausência do diálogo, do encontro, do cuidado é mais dolorosa quando da não partida física. Quando se sabe que o que morreu foi o sentir, a inquietude se instala no viver. Nada sinto se não tuas contradições.

Encontros não desejados. Ouço o que não procuro. Mentiras encobertam falsos sons.

Inverdades são ditas para tentar apagar as lembranças do último e indiferente encontro. Palavras que não dizem às ações. Estas não correspondem ao amigo. Nem ao amante. O altruísmo que pensas existir no personagem que encenas, só é válido se pensado como suicídio. E mesmo assim, no palco de sua mente.

Faz algum sentido para ti?

Já não importa. Não mudará. Repousastes o fardo que tanto desejou que desabasse. Mas seu desejo não foi realizado. Quando verbalizastes o abandono, já não existia apego há muito. Não somos mais as metáforas dos mundos. Não passamos de estrelas vistas aqui de baixo. Neste lugar, elas não são especiais. São iguais a qualquer outra.

Se quiser viver em Pasárgada, seja amigo do rei. Percebes a diferença?
Espontânea não foi sua partida. Foi calculada, antes mesmo de rotular-me. Não digas “É isto que você acha?”. Não, não era. Mas foi o que me mostrastes. Com tua falta de essência ao designar-me assim.

Oro:

Faz-me justa. Livra-me do egoísmo e do ilusório palco de nossas hipocrisias. Eleva-me além do que alcanço. Quero voar. E quando eu disser que vou tentar, que eu mergulhe. Não quero pular para fora. Abre meus olhos. Agradeço pela força de regurgitar essas nuvens opacas.

Para mim, era importante.

domingo, 20 de julho de 2008

Julho de 2008

As lágrimas lavam o chão para que se dance a valsa. Hoje haverá núpcias. O cortejo não sorri ao rosto, mas no coração. Você será carregada para os braços de seu amado. Da nossa maneira, estamos felizes. Pois sabemos o quanto este encontro foi esperado.

Sua íris ficou azul, da cor do céu. Seu olhar, ao longo destes dias, foi o mais representativo de todos os olhares que divagaram pelo mundo. Sua caminhada se deu através deles. Seu desprendimento, seu adeus. E você adormeceu em um longo sono.
...

Ele se vestiu com um terno claro. Voltou a assobiar aquela velha canção. Se portou como um rei à porta da eternidade para recebê-la. E em um júbilo lacrimoso conclamou: "Seja Benvinda, meu bem. Para sempre".

E das contradições cotidianas que ora afirmam existir o amor, ora o contrário, aprendi não haver sentimento mais belo quando de sua verdade. Contarei, também para o meu sempre, mais uma linda história de amor.

Te amo e já estou com "sodade".

José e Benvinda

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Para seguir...

Entro no carro. Os ponteiros marcam alta velocidade.

Ninguém de nada desconfiou. Nunca. Só nós sabíamos. O tempo todo. E nos olhávamos. Muito. E me feri, pois vi o reflexo de nossas escolhas. Sofri minha inquisição ali, naquele momento.

Estrada longa, cheia de curvas. Para que a minha atenção seja só esta.

E os caminhos se tornaram tortuosos. Eu desejei que ela morresse. Sei que não deveria, mas era tudo o que eu queria quando a vi correndo daquele jeito. E você nada podia fazer. Ou não queria. Tinha medo, sei que era isto. Porque se penitenciou deste jeito?

Fecho os olhos. Insustentável a trilha abaixo de meus pés.
Miguel, não existem coincidências, mas associações. Não acreditamos no destino, mas quando digo que a escolha foi dele, digo que nos deixamos levar. Permitimos que acontecesse.

Sonho:

Exorcizo-me nas palavras
subjacentes à significação.
Senti tua leveza.
Vivenciei tua glória
ao acorde do violoncelo.
Gladiei-me em espírito.
Sarcasticamente, ao final, sorri.
Encenado o ato,
partida à nova era.
Para seguir, é necessário.
Esquecer as batidas do martelo.

sábado, 5 de julho de 2008

Rubra noite

Jogo os dados: nove.

Vermelho. Pinto os lábios de vermelho. Os olhos, já negros, são reforçados com traços de escuridão. Nas maçãs do rosto, um leve toque que sugestiona vitalidade. Vestido preto, com um acentuado decote. Pés elevados por uma sandália alta. Cabelos presos, nuca nua.

Jogo os dados: nove.

Para os dias monocromáticos, vermelho. Dos meus pés ao céu. Faz frio, sinto o vento cortar minha pele. Assim é melhor, assim me sinto viva.

Jogo os dados: nove.

Sim, leva-me. Desejo dançar ao seu som. Erguer-me à sua voz. Ir por tuas palavras.

Jogo os dados: cinco.

Colorir o céu, fragmentar o ar... ir e vir. Ao seu sabor, ao gosto de uma nova nuance fervente. Ensandecer à tua presença. Esquentar-me ao seu calor.

_ Sim!, podemos ir agora.

domingo, 29 de junho de 2008

Caminhada rumo ao mar

Saí para pescar estrelas. O teto de meu pensar carecia ser iluminado. Seu azul, céu monótono, sem nuvens e brilho.
Apunhei a vara às costas e sai por uma trilha longuínqua, cantarolando versos extensos. De um lado da estrada girassóis banhados por uma lua cintilante. Do outro, damas-da-noite irrigadas por raios solares.

Parei a observar um pouco a lua: cresci acreditando que somente o sol era capaz de dar vida àquelas flores amarelas. Não era verdade.

Resolvi então apanhar alguns girassóis para fazer companhia às futuras estrelas e continuei a caminhar. Borboletas surgiram ao meu lado e sete pousaram nas flores. Sorri e deixei que elas me acompanhassem (é bom ter companhia).

Parei para descansar e adormeci: enfim meu encontro com as estrelas. Joguei o anzol e pesquei sete. Me fartei com o brilho delas. Voltei para casa.

Peguei as estrelas, os girassóis e as borboletas. Enfeitei cada cantinho com uma certa melancolia. Qual não foi minha surpresa ao terminar o trabalho. Meu pensar estava vermelho,sem nenhum vestígio do que havia sido apanhado: dois mundos estavam projetados claramente, como se no espaço assim existissem. Corri e resolvi trancá-los.

Girei a chave e saí daquela casa.

Andei um pouco e encontrei um hall de mármore branco, comprido. Meu pensar estava seco. Carêcia chover.

À minha frente, escadas iluminadas rumavam a uma platéia. Ao som de uma orquestra, recebi um presente, como uma brisa suave e calorosa: Vivaldi, com o calor de seu Verão.

Meu céu rapidamente ficou escuro e logo comecei a chover. E fui me purificando, o fogo que me queimava ia se apagando lentamente.

Ao meu lado surgiu uma ventania para ajudar a chama a se apagar. E de um lindo barco
branco, surgiram essas palavras: "Não há como não se emocionar, não é?". Sorri. E como a muito não permitia,deixei que aquele barco navegasse pela minha chuva até que o gotejar do sol da manhã o fizesse voltar para casa.

Sorri intesamente e aceitei uma bebida. Até o sol raiar, e o barco voltar para a sua praia.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Passos do acaso

Sentada à mesa da cafeteria ela estava. Degustando gotas doces da bebida que a fazia lembrar os dias amargos. Suas observações fugiam ao local em que ela se encontrava. Se ia e voltava como que por tele transporte.

Ao balcão, ele sorria a olhá-la. Sua presença não havia sido notada. E ele aproveitava esta não percepção para ocasionar seus pensamentos. Ansioso, esperava os acontecimentos da noite.

Então, entre uma ida e vinda de seu pensar, o olhar dela encontrou aquele que a sugava do outro lado da cafeteria. Trovões surgiram dentro de si. Cobriu-se de um sorriso que exigia ser decifrado. E pensou, irritada, quanto tempo ele estaria ali a observá-la sem que ela o percebesse. Teria agora que jogar com o acaso, e isto quase a deixou preocupada, não fosse o fascínio que sentia de arriscar as possibilidades deste encontro casual.

Deixou que todos os jogos de sedução fossem encenados. Brincou com as chances de se permitir, de ser deixar ser levada. E de se redimir consigo.

Havia chegado a hora. Levantou-se da mesa e por ele passou, como se nada houvesse acontecido. Parou na mesa de outros homens para pedir uma tola informação. Saiu à rua.

Ao seu encontro ele foi e ouviu:
_ Não Pablo. Hoje não. estou assim...nauseada de tua presença. Já tive o que queria desta noite. É melhor você beber um pouco mais. Estou indo.

E o deixou.
Rubro, apanhou o descaso e se cobriu. E reafirmou seu desejo. Era assim que ele a amava.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Renascimento

Canta, grita, geme, cala.
Fala!
Faz do erro o primeiro declive
para o ápice do fracasso certo.
Da escolha errada.
Do elevado espiral de tristeza
rumo
à solidão.

Sente...delicadamente.
A minúscula, intensa e
inerte sombra do dia.
Passa...
Acalenta e embala...
Sopra.

Prende dentro de ti
o estrondo vazio que
nada diz, que a nada leva.
Leva, purifica.
Passa!

Renasce.
E sorri lágrimas vívidas
de um choro de luz.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Para viver mais

" Virem mares todos os sertões/que choram pedras aqui dentro./ Pra esse fogo que queima tão lento/ Vento, vento, vento". Vander Lee

Sofia estais presa.

Luz, voz, sons, multidão, alegria. Brindemos a vida! Sejamos felizes, dancemos a música que nada diz. Feche seus olhos, respire fundo. Queime por dentro.

Sofia estais livre.

Silêncio, vazio, solidão. Um barulho dentro de ti. Eu escuto, fique quieta! Percebe? O que grita dentro de ti?

Sofia és feliz?

Não desmaia, pensa! O que há com você? E as celebrações, a alegria, tudo roda, roda, roda. Por que não sorri?
Abra os olhos, esquece a multidão.

Sofia, o que procuras?
Sofia, o que está fazendo?
Olha pra mim, olha agora!


Levantou, tomou rapidamente seu café. Pegou sua pasta, seu casaco e desceu correndo as escadas. Precisava correr, mas sentia que deveria aproveitar mais um pouco do vento que insistia em fazer dançar seus cabelos. Não podia. Havia que correr ao encontro de sua alegria, do que realmente importava.
Começou a sentir uma correria dentro de si. Uma agitação conhecida, mas sempre nova, diferente. E começou a queimar.
O fogo começou a consumir sua cabeça e foi descendo por todo o corpo. Ninguém notava nada. E não era um fogo de purificação, mas de verdade, de espelho. Queimou até sobrarem cinzas a flutuar pela cidade.
Parou na calçada a descansar intensamente. Chorou e entendeu seu verdadeiro significado. Quem realmente era.
O fogo não purificou, mas as cicatrizes sim. Marcas que não serão apagas, não serão vistas. Retornou para casa. Para internamente descansar.

E a cidade continuou a comemorar o momento, o efêmero, o impalpável. Sem perceber que a poluição cinza que se fazia presente eram traços de abraços perdidos, de uma insensata sede de ser feliz.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Devaneio sóbrio.

Duas taças de Blue Lagoo, por favor.

Susurra baixinho aquele segredo em meu ouvido. Sim, responderei contente ao que me pediste. Não importa se é certo, aliás, o certo é como a realidade. Êfemera e impalpável.

Outra bebida, a servida não é saborosa. Deixarei que o destino escolha desta vez.

Ah, como gostaria de trancafiá-la e esgotá-la em sua veloz exitência,realidade...que bonito nome tens.Quando penso em ti,já passaste. E nunca exististe. Por isto acredito ser superior nosso viver. Pois não passa. A vida sim, mas o sentir não. Carregaste a felicidade para teu presente. Foste, não será. Estiveste, não te sentirei...ficaste em Teu momento.

Vinho, quero ingerir teu sangue.

Sim, daremos as mãos. Até que o braço penda, até que os dedos se esfolem e se gastem... assim como os anos... assim como as dores dos amores... até que os suspiros sejam parte deste momento que existiu sem nunca ter sido.

Por favor, a conta. E água, estou com sede.

Carlos está na hora de ir. As horas são altas, o dia já vem. O sol goteja em nossos olhos um retrospecto fragmento do ar que respiramos. Aproveitemos o sabor do sorriso, o hálito do vento. Feche seus olhos...e aperte minhas mãos...assim mesmo, ainda na cama. Pois nada importa, nada acontece.

Agora vá. Antes que nossos corações peçam um pouco mais do calor de nossas mentes. Não há mais tempo, ande, pois isso seria demais!

Sonho:

Dá-me tua mão, Carlos,
o soar dentro de mim clama por tua direção.
Penetra em teu êxtase sublime.
Guia meu silêncio.
( ).
Não quero que ninguém saiba do segredo.
Tolos!
Suas conotações erram o caminho.
Vem Carlos, eu te guiarei.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Reflexo

Olho no espelho e vejo uma imagem refletida.
Vejo carne viva
sangro.
Olho para meu peito e nada encontro.
Retorno ao espelho.
E eu,
imagem,
desfaleço.
E a verdade se encontra
neste exato meio de ilusão.
Nele ando, amo, respiro
e me perco.

Livre Arbítrio

A morte se impõe sobre a vida. Quando sente-se a finitude do corpo, a alma fraqueja e busca um conforto intangível. E crente de que um encontro superior o confortará, abandona a existência para nunca mais ser.

Pausa.

O castigo foi recebido antes de o crime ser executado. Pura profecia.

Respirou. Fixou o olhar. Correu.

Casa azul, 21. Entrou rapidamente pela porta encostada. Disparou sua dor: uma, duas, três, quatro vezes.

Sentou a esperar. Aliviou.
Não respirou.
Aquietou.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Camila

Eu tinha quatro anos. Estava sentada no chão do quarto, desenhando e colorindo. A colcha que cobria a cama era azul com coraçõeszinhos brancos. Havia uma banqueta ao lado da cama. Como se nada tivesse importância no mundo, fiquei ali brincando sem saber o que acontecia a minha volta. Mamãe chegou à porta do quarto com aquele barrigão. Me abraçou e começou a chorar.

Ela tinha cinco anos. Era filha única, uma menina muito carinhosa, querida por todos. Dançava balé. E brincava comigo. Era minha melhor amiga. Um dia começou a sentir fortes dores de cabeça, febre que não passava. Foi levada ao hospital. Diagnóstico: meningite. Foi tudo muito rápido.

Minha mãe me tirou do chão, me abraçou e disse que a Camila não estava mais com a gente. Ela havia ido morar no céu. Não sabia o que aquilo significava, nunca havia conhecido a morte. Não sabia o que era sentir falta de alguém. Lembro que senti uma dor estranha e chorei abraçada a minha mãe. As lembranças páram por aí. Depois tudo escuresse.

...

Não sei ao certo porque isso me veio a mente, incessantemente, ontem. Estava deitada, tentando dormir, e as imagens me vieram. E não queriam ir embora. Pensei em tanta coisa. Lembrei de tantos amigos e fiquei com medo de perdê-los. Este é um medo que me assombra sempre. Ultimamente percebi que é bobeira. Os verdadeiros amigos estão ao meu lado sempre. Sinto tantas saudades de todos. A maldita rotina nos separa (sempre ela!). Mas saibam que guardo vocês em meu coração.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Saudades

Era uma varanda extensa, com um pequeno jardim à sua frente. Havia uma rua pouco movimentada que trazia um pouco de vida àquela residência tão quieta. Trazia porque os passantes estavam habituados a olhar aquela cena quase fotográfica, não fossem os suspiros de tempos em tempos vindos daquele lugar...

Ela se sentava todos os dias na mesma cadeira. Nas manhãs, tardes e noites. Após exercer mecanicamente todas as atividades diárias da casa. E todas as necessárias para que sua vida prosseguisse, até chegar a hora que Deus resolvesse levá-la.

Deus. Como ela chamava por aquele nome. Pedia diariamente para que ele colocasse um fim à sua melancolia. Mas ele a ignorava, e se esquecia dela. Passava ao seu lado sempre, levava a Maria, a Selma, a Ivone.... E se ia.

...

Lembrava da casa cheia. Das crianças correndo naquele jardim. Dos longos almoços cheios de sorrisos e altas palavras. Das visitas vindas de fora, das vizinhas amigas, dos bordados, dos bolos com café passado na hora...

Suspirava. Levantava. E limpava a lágrima que sempre teimava em cair.

domingo, 27 de abril de 2008

Resposta

Roberto

Como foi rápido nosso encontro e duradouro meu arrependimento. Vi em você algo que sempre busquei e que nunca havia encontrado. Que tolice a minha! Como pude acreditar que ao seu lado tudo ficaria bem?!

Escondi de mim o que todos já sabiam. Assim o fiz por medo de sofrer. Sei que fui fraco, e continuo ao responder a sua carta, pois não há mais volta.

Você é fraco! Encobriu a vida toda o seu verdadeiro homem e não fui capaz de ser a sua certeza. Continue sofrendo, parece que só assim você é feliz! Mas você não tem o direito de fazer sofrer Joana. Ela não nos merece, seja homem ao menos uma vez.

Não me preocupo de você tirar sua vida: não é forte o bastante para isso. Continue a sofrer só, sem fazer da vida dos outros um sofrimeto.

Assim como te inventei, destruo minha criação. Você não é e nunca será o homem por quem me apaixonei. Construí um amor. Mas você não existe como aquele que permeava meu futuro. E por não saber se o que inventei estava em mim ou em ti, utilizo do meu esquecimento para assim fazê-lo.

Nunca mais,

Paulo.

PS.: A infelicidade está em você, não nos relógios...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Infelicidade: a carta

" Porque um dia se vê que as horas todas passam,e um tempo despovoado e profundo, persiste." Cecília Meireles


Roberto

Hoje quebrei meu relógio. Quebrei também o da sala. Destruí minuciosamente o do quarto. Agora acabou. Estou livre deste anti-felicidade. A leveza com que me encontro superará toda a falta sentida. Toda hora marcada. Surgirá um novo espaço vazio. E eu não precisarei me encher do teu vazio. Das tuas falsas ilusões.

Agora não medirei minha infelicidade. Acabou! Nunca mais existirão suas alegrias, sorrisos, palavras, ausências.

Sabe, Roberto, viver dói. O meu, o seu, o nosso. A sua felicidade me machuca e você não a terá mais.

Imploro: destrua seus relógios. A felicidade não deve existir.

Agora livre,
Paulo.

continua...

sábado, 19 de abril de 2008

Angústia

E eis que ele abriu a porta e entrou. Não disse nada, não a olhou.Caminhou a passos pesados, com a respiração alta. Foi para o quarto. Da sala, com os olhos fechados, ela tentava imaginar o que ele fazia, o que pensava. Sua alma lagrimejava e a cada gota d´água que nela aparecia, uma pontada surgia em seu peito. Não podia ficar assim. Tinha que haver um jeito de superar aquilo tudo. Sentada no canto do sofá, rezou em mente para que aquilo tudo tivesse um fim. E que fosse rápido. Mas sabia que isto era impossível. E chorou. E doeu. Lentamente, deixou que o peso todo que sentia se deitasse naquele sofá. Abraçou sua dor e deixou que ela a possuisse. Não adormeceu. Da janela de seus olhos, visualizava uma abstração projetada na cortina. E dela vinha uma voz que fincava: " Não aguentava mais, você precisava saber...".



continua...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Emociológico

De tanto o coração dor
A cabeça pulsa:
Cistole, diástole...
E quem pensa é ele.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Dezembro 2007

Da última vez que o vi, dizia sentir frio. Havia uma grossa coberta sob seu fino corpo. Mas mantas não aquecem almas. Infelizmente, palavras também não. E o frio perdurou por mais algumas semanas, até que seu corpo aqueceu, e o coração aquietou. Ficou tão calmo, que adormeceu.

Despertei.

A casa vazia é cheia de sua presença. Na garrafa de café, faz-se notar seu rastro pelo físico e ausência pelo conteúdo. Não mais haverão pães com queijos quentes. Não daquele jeito. O bolo comprado “procêfia” não estará mais presente nas tardes. 

Pergunto-me como pode o silêncio soar tão alto nesta sala? Procuro um assobio longe, mas não o escuto. De repente, meu coração dispara, e é ele quem me faz ouvir um tamborilar na mesa, como aquela velha canção orquestrada pela presença de sua voz: "oi...ai...". Mas é só meu coração. Você não está.

A saudade me faz vê-lo abrir a porta e procurar o movimento da rua, para tentar por fim ao seu sossego... Mas ele sempre esteve dentro de ti, e foi levado contigo. 

Lembro-me de mexer em seus cabelos e pequenos fios, como neve, caírem ao chão. "Por quê?", me dizia em um olhar. E depois deitava, e deixava desprender sua alma aos poucos. 

Um dia, ela tomou velocidade e partiu, a parte que lhe pertencia, deixando a outra no vago olhar que buscava: "onde está o meu José?".

Todo o sempre que passo por aquela porta, espero você voltar da rua. Por favor, não demore. Eu te amo.

Vida hansênica

Ao caminhar pelas avenidas
deparo-me aos pedaços pelo asfalto.
Em algumas partes
apenas chão batido.
Vida hansênica!
Chutarei seus cacos de existência.

Pretérito presente

Desnuda de teu olhar
a tontura pungente dos dias passados.
A luz que se apagou
ilumina a escuridão clara
dos dias vindouros.
A sede de teu corpo num atraso infinito,
guia meus novos passos...

Ausência II

Oposto do teu significado
preeenche tudo a que toca.
Inunda com vontade
o corpo cuja morada
abriga a partida.
AUSÊNCIA.
Completa tua forma
neste teu santuário.

I

Só tenho direito a dor.
Fria, pulsante, purgante...
só a ela posso desejar.

_ Livra-me do fardo de não ser.

Seja sublime em tua essência
delicada, distoante...
Corte minhas veias e
faça fluir,
translúcido,
meu permanente caos.

_ Minha quimera de purificação
e penitência!

Nobres os que te têm
como calvário.
Só tú entendes a vida.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Sarah

Sem inspiração para revisões e questionamentos gramatico-literários. Espero compreensão. Desculpem e obrigada!
Detesto datas comemorativas. Não há o que se comemorar. Para mim tudo não passa de uma nostalgia da farsa voluntária. Reuniões com frases ocas. Congratulações robóticas. Abomino todas, sem excessão.
No próximo fim de semana é dia das mães. Grande coisa! Estou cada dia mais certa de que Sarah nunca soube bem o que esta palavra significa. E domingo terei que dizer: "Feliz Dia das Mães para a melhor de todas!", e fazer o meu papel nesta dramatização comércio-social.
Sarah nunca foi forte. Sempre foi aquele mulher "sim senhor". Aos sete anos perdeu a mãe por uma infecção não tratada. Assumiu algumas responsabilidades de casa enquanto via seu pai definhar noites adentro tendo por companhia conhaque e Mercedita Bardô, puta pobre da rua Laranjais. Aos treze, conheceu quem seria futuramente meu pai, Lázaro. Ele não era muito bonito, mas tinha um charme de chamar a atenção de qualquer moça que com ele conversasse por um minuto. Casaram meses depois com a promessa de constituir uma imença família.
Ilusão. Um ano depois quando, por não conseguir engravidar, Sarah procurou um médico para verificar sua infertilidade. Daí pra frente ela perdeu o gosto pela vida. Papai nada dizia, só a olhava choramingar pelos cantos da casa e saia para tomar um ar que se assemelhava aos que vovô tomava. Três da madrugada, acordava mamãe para encomedar o bebê. Isto tudo vim a saber por uma vizinha de nossa antiga casa que era confidente de Sarah.
Quatro anos depois nasci. Para Sarah foi uma felicidade só. Papai, já cansado de ouvir sussurros dos amigos sobre sua esposa, foi comemorar com ela, comprando meu berço. Nasci de um parto normal trabalhoso, dizem que Sarah sofreu muito. Ela cuidava bem de mim, mas papai fazia todas as minhas vontades. E por isso sempre existiam brigas.
Quando eu tinha sete anos ouvi uma discussão feia dos dois. Sarah gritava com meu pai, dizia não suportar aquela situação, queria que ele escolhesse seu destino. Papai bateu nela, mas da forma com que falava com ele, acho que foi merecida a surra. Não que eu seja a favor da violência, mas ela é muito difícil. E papai teve que ir embora sem ao menos se despedir de mim. Culpa dela, que não soube conversar. Se ela tivesse pedido com jeito, nunca mais papai chegaria tarde.
Quando eu me casar, se acontecer, tomarei as rédeas de casa. Não serei submissa a homem nenhum, não quero agir como Sarah que foi encarregada a vida toda e falou mais alto na hora errada. Não quero que meus filhos me vejam assim.

Antítese gauche

_Mente vazia, oficiana do ócio.
"Ai, que preguiça!, Itabira besta"!
De longe vejo Preta passear com uns moleques.
... dizem que meu coração é do tamanho
de minha mão.
Será, Raimundo?

Melo Neto e Drummond: papo de butequim

_Havia uma pedra no meio do caminho.
_No seu também?
_Uma pedra...
_E quem você educou com ela?
_Um povo sofredor...
_Ah, tá bom...

Ausência

Era dia quando a partida se fez
e você chegou.
Concretizou a imortalidade
leve e atroz de nuvens caudilhas.
Semeou o nada e preencheu o vazio
com um vácuo bater de asas...

Hoje choveu
e o sol nasceu.
Escuro, mas nasceu.
Opaco raiar verdejante
azul celestial.
Ouve:
_Houve compreensão!
E tudo se (des) fez
Porque quando dia, ela
cicatrizou
(mas não esvaziou!).

Ânsia

Percorre labirintos biológicos
Tateia, passeia, encobre... sulca
- ventos pensantes terrenos eternos.
Sufoca, embala...
aprisiona-se no retilínio flutuar - pulsante
sangue cardio-pensante
de minh'alma.

Escolhas

_Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas

As contrações vinham cada vez mais ritmadas e progressivas. O tempo em que elas aconteciam era cada vez menor. Vânia gritava de dor, chorando muito. Eu estava nervoso e não conseguia fazer nada por ela.
Pausa.
Salto da cama apressadamente. São onze da manhã. Tudo bem, hoje é domingo. Desço até a cozinha. Vânia está terminando de tomar seu café e avisa que vai à casa da “mamãe”.
_Volto para almoçarmos juntos.
Preferiria que ela me deixasse sozinho o dia todo. Mas não digo isso.
...
Quando fizemos os exames e descobrimos que eu não poderia ter filhos, me enchi de alegria. É claro que não demonstrei. Enquanto dizia, “Vânia, tá tudo bem”, e me esforçava ao máximo para demonstrar o contrário, pedi que me deixasse sozinho e fui ao bar do Paul comemorar a anunciação. Porque não querer filhos? E te pergunto: porque tê-los? Crianças dão trabalho, gastam dinheiro, roubam tempo, nos fazem mais mentirosos do que somos (que saudades de quando ele tinha um aninho..!)... Além do mais, nunca se sabe o que eles farão, ou serão, no futuro. Não existe essa de que terei orgulho do meu filho. E se caso ele virar um marginal? Um assassino? Que orgulho, hein?! Tudo bem que para os pais os filhos nunca têm culpa de nada. É sempre aquele vizinho mais velho, é, aquele meio vagabundo, que trabalha só pra não ter que estudar. Foi ele quem incentivou o menino a fazer aquela besteira. A Vânia seria uma mãe assim. O Beto bateu em um garoto – Roberto. Este seria o nome do nosso filho – mas queria só se defender de quem o chamou de mimado. E as expectativas que ela colocaria nele?: “Vai fazer natação, inglês, futebol, e quando for para uma universidade, fará fisioterapia.”. Nunca entendi o porquê deste curso.
Ela queria só menino. Imagina se viesse uma menina? Minha mulher teria uma daquelas crises depressivas e diria que nada acontece como planeja.
_Quero menino, mas se Deus mandar uma menina ficaremos felizes da mesma forma!
Mentira. Por dentro ela estaria odiando o fato de o bebê ser uma menina. E durante a gravidez? “Ah, estou me achando a mulher mais linda deste mundo...”. Outra mentira. Ela ficaria gorda, inchada, com seu humor mais flutuante do que o normal, totalmente insegura quanto ao dia do parto. Diria querer normal, enquanto esperaria aflita os dizeres da médica, louca pra que ela indicasse uma cesária. Depois um corte na barriga, noites em claro, seio doendo pelo leite, fraldas, remédios, consultas, “liga pra mamãe”, doces, bolo, convidados, um aninho, menino desce daí, não fala assim, e mil coisas piores. Quando com sete anos, “Que saudades de quando era um bebê!”. Mentira. Ela estaria aliviada por não ter que passar por aquilo novamente. Mas para as amigas seria: "Por mim,teria mais dois, o Marcelo é que não quer".
Não quero, nunca quis e nem vou querer. De expectativas não realizadas, bastam as minhas. Nunca plantei uma árvore, apenas escrevi redações no colegial e sempre tive vontade de ter cachorros. Sou empresário de uma construtora, as redações até que eram boas e tenho dois dálmatas. Sou muito feliz.

Contras às Carolinas

Por que não Fernanda? E sim Carolinas? O que elas têm que nós não temos? Músicos do meu Brasil, quisá do mundo: porque não a grandiosidade de esta graça tão musical: Fernanda! Uma vez, ouvindo uma rádio divinopolitana - ah! confesso que esta era questionável - ouvi uma música cuja introdução me fez soltar uma exclamação:eca! Após rir do início, veio então o refrão. “E eu tchamuu, o seu nome, o seu nome, o seu nomeeee... Fernandaaa, Fernandaaa...” Pedi para morrer. Merecemos mais que isto. Nomes menos populares como Tieta, Ana Júlia, por exemplo, já foram exaltados nas vozes de mestres brasileiros. Pô Caetano, e as Fernandas? Luizas e Gabrielas fizeram Tom Jobim ser um pobre amador, um aprendiz de seus amores. Gabriela, que cresceu e nasceu daquele jeito, tem uma canção só pra ela. Alice, Roberta, Laura... será que não existe nenhuma musa inspiradora chamada Fernanda? Até um Drão, palavra meio andrógina, esconde uma exaltação a uma certa Andréia. E a Beatriz de Chico?
Vocês devem estar pensando, “Ela tá puxando a sardinha pra ela”. Não é isso gente! Só acho que chegou a nossa vez! Fernandas do meu Brasil uni-vos! Fazei com que aquela bandinha do seu vizinho, proclame, grite, murmure, que seja, o nosso ilustríssimo nome. Minha revolta - prefiro revolução- vem de ouvir Carolina com Seu Jorge e Caetano em cds consecutivos. Daí tive esta brilhante idéia. Também quero ouvir que sou uma “menina bem difícil de esquecer, que ando bonito e tenho um brilho no olhar...”.
 
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