À Dona Renata
Chora,
Dona Renata. Entregue-se copiosamente ao desespero, à dor. Tua força é bonita,
mas pesada. Tens ainda, à frente, muita dureza a caminhar. Chora agora. Deita-te
nos ombros dos amigos ou no colo de teu travesseiro – ou no dele. De dia mesmo,
não espere à noite, não espere o amanhã. Tu, mais que ninguém, sabes que o
amanhã ainda não existe. E pode não existir. Descanse, Dona Renata. Sinta a tormenta que está, pois ela irá diminuir seus ventos, sem nunca
cessar. Torne leve teu doloroso penar. De forte, já bastam os arrombos da
vida. Afrouxe tua fortaleza. Repouse. Há que ser dura noutros dias;
permita-se, por hoje, nada ser além de saudade.