Agora é meu nome que ouço. Não o digo, mas ouço. Eu
esqueci as palavras, por isso não posso dizer meu nome. Nem o seu, nem o dele.
Me chamam, eu vou. Vou parecer um anjo. De pele alva, lábios tinto vinho,
negros cabelos, corpo enluarado - muralha mansa que venta anjos. A noite era
quente, depois fria... o tempo está bom. Agora, de novo quente. Quente
bom, a noite pode ser quente e ser gostosa. Gosto de vinho, de muralha e de
olhos verdes - mel.
A muralha é doce. Não sei quantas são as horas. Não
quero saber de nada... Vinho tinto, tintos lábios. Doce muralha, parece anjo.
Acho que estou sonhando - serei capaz? Não, não, é apenas um devaneio. Eu não
sei sonhar, esqueci como faz. Eu queriadormir. Mas venta um vento bom...cor
de muralha, verde-mel. Não quero dormir mais, nunca mais, venta o vento da
muralha.
Quando deito, junto as mãos e as entrelaço. Ao meu
peito, ao dele, ou ao desejo do sonho. Desejo somente, porque eu não durmo mais
e, portanto, não sonho. Antes eu gostava de sonhar, mas já me acostumei com a
falta. A falta vira parte e passa a ser. Eu sou: diferente ser. Quando deito,
entrelaço as mãos. Porque sempre preciso preencher minhas mãos; nelas, sempre
há falta. Mas esta falta não é...