quarta-feira, 27 de maio de 2009

Onde

Onde dá pra ser feliz a gente é.

Mas o vento, esse que
tremula a coragem
inquire:
_ Aonde vai?
E me leva sem resposta.

Onde dá pra ser feliz a gente é.

Enraizo palavra
a estender galhos
à brisa - agora é calmo
o choro que
lavro.

Onde dá pra ser feliz a gente é.

Mas eu nunca onde.

domingo, 24 de maio de 2009

Ela, o mar e ele

"Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar".
Sophia de Mello Breyner Andresen
Leblon/ RJ 2009
Quando a brisa vem
percorre os sentidos
e se esvai em um
sopro maior de vento
tufão.

Ancora teu corpo
na areia a olhar
as águas que se
agitam em um flerte
de alma.

Quer adentrar água
luminosa, quer permanecer
n'areia. Engarrafar o tempo
quer, em vão
não!

É atrás da ponte, detrás
da pedra, onde ele mora.
O mar tem olhos verdes
de maré revolta
- parece rio manso.

Me chama em canto
de gaivota, saudade.
Leva e retoma à praia :
mulher de mim
nascente em ti.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Caminhos

Sim Pedro, eu estou bem. Só quero me aquietar dessa multidão um pouco. Hoje o dia foi extenso e estar aqui me deixa feliz e cansada. Venha, por aqui, me dê suas mãos...

Ainda toca aquela bonita canção?Quando te vi novamente, me deliciei com teu encanto. Ah, Pedro, tua pele alva...esses olhos claros...já disse a que me remete, não? Pois bem, tua imagem é linda. Gosto quando contigo estou e gosto mais de te encontrar como um presente aos meus caminhos. É engraçado estar deitada nesta grama, alma a flutuar estrelas e ouvir tua voz a me dizer "está bem moça?". Sim, Pedro, eu estou bem...

Olha ali, por detrás daquelas pessoas...está vendo? Aquele é Felipe, ele é flautista. Eu caminhava por entre todos quando o vi sentado tocando flauta. Gostei tanto que me aproximei e disse "olá". Ele me sorriu e respondeu ao meu dizer, acrescentando "sente-se'". E ali fiquei, ao sabor daqueles sons...Quando disse ser poeta, ele se alegrou e dançou comigo. Sorri, me enchi daquela felicidade simples, transparente. E em meio à dança, soltei os abraços que nos uniam e prossegui chorando... o porquê chorei? Não sei, acho que me senti feliz, viva, e transbordei...pouco antes de você chegar...

Pedro, vamos até ali.
Gosto do frescor da madrugada, desse silêncio que nos inunda. Você não sabe como estou feliz por você estar aqui comigo! Como amanhã acordarei descansada e a ti escreverei. Sei como gosta das letras, temos tanto... Você irá sorrir quando ler essa cena não é?! Eu sei, a pintarei como você gosta, com minhas falas e teu silêncio...Pedro...eu preciso estar bem...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Loucura

Acordo aflita, outro sonho em ti. Dizias que de mim precisava, corri ao teu encontro, estendi as mãos. E você sorrindo me gritou: não! E eu chorei enlouquecida, sem razão clamei teu nome à penumbra da noite e já não sabia se dia era certo ou sonho. Revolvi a gaveta e vi a fotografia de quando encenamos felicidades. Nela, mãos estavam entrelaçadas.

Senti uma voz que dizia que subjeções enlouquecem mentes sãs. E outra vez tua presença a gargalhar o ópio de tristezas delirantes. E a cada lampejo sonoro, aterrorizava-me em uma busca de sentido retalhado, dissipado por abstrações que teimam em enraizar almas na terra a esta hora da madrugada.

Dissolvida a verdade em um copo de angústia que fraqueja a essência de perder o que não importa, vi um vulto a me olhar fixamente; a sugar o pouco de quietude que teima em deixar minha alma acesa. Tive medo do homem que bate na face uma loucura coletiva.

Orei a quem interesse tivesse, que queimasse o entorno que ronda as certezas. Sintonia das horas, passos impressos a edificar uma existência morta.

Sonho saber que o irreal é ponte de atos sem reflexão.
É assim que se apresenta.
A eternidade é uma noite de outono em solidão.

domingo, 3 de maio de 2009

Ben(e)dita Bianca

Quando se quer dizer importante e não vês motivos para usar as palavras; quando o sentir transborda e escorre pelas valas de perdidas ruas; quando as flores murcham às mãos por não haver encontro; o homem ajeita as vontades e organiza o querer. Esvazia o pensar em um gole quente que faz escorrer dentro de si as amarguras das recusas de Benedita. E uma audição lamuriosa faz permanecer no coração o que ele recusa acreditar.

Nos braços de Bianca, além das quatro madrugosas horas, haverão as outras todas que viverá quando não tiver esse enganoso repouso.

E os céus cantam:

Oh Santa Bianca das amenidades imediatas! Valei ao homem os beijos negados de Benedita, o corpo que não encontrara a ofertar afagos valiosos. Sede virtude às ilusões do pensar que amores fulgazes cobrirão os eternos desejos não saciados. Tua paga virá em um céu de trocados sem valor e no esquecimento do que ocorreu nesta melancólica e desgraçada noite.
 
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