sábado, 4 de dezembro de 2010

Chegada

Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.
Caio Fernando Abreu

Para o meu lindo...

Quando ele chega, me acolhe com os lábios e abraça meu desejo de paz. É sutil a precisão de suas discretas mãos que me afagam as inquietudes e sugestionam uma calma que logo obedece a seus apelos; aquieta meu dia. Espelha-me de completo em meio sorriso encantador. Diz doces palavras, celebra-me como a uma festa de longos anos vividos, mesmo tendo há pouco visto meus sentidos, cheios de pequenos segredos por descortinar. Sente minhas dores, alegrias, canta comigo silenciosamente a canção do entendimento; quer que seja assim, e faz ser assim: uma verdade simples de suspiros prolongados com gosto de eternidade terrestre.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ressurreição minimalista pós-moderna

Tenho muitas paixões
NOVAS
Que deslizam em meu corpo
SENTIDOS
pLuRaIs.
Levam em enxurrada
VERDADES
aNtIgAs.
E me constroem
DE NOVO.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Eu e o mundo

Não, meu coração não é maior que o mundo. / É muito menor. /Nele não cabem nem as minhas dores.
Drummond

Enterro o pensar em costumes.
Tentando acertar o que nunca seria.
Visto o olhar de assim será
Mascarando-o de será assim.

Nada é constante, além das auguras
De minh’alma.
Somente a dor é cíclica e me pertence.
Como pássaro que voa preso na limita liberdade de mim.

A terra que acolhe meus pés
Não sente; fluida vontades pouco permanentes.
Transita sentidos, passagens.
Não incrusta, navega na frouxidão das superfícies.

Mundo: o que farei pra ti?
Pressinto nossa queda; mas como?
A minha, ao chão; a tua... pra onde?
Preciso ver para nos salvar.

Meu olhar anda marejado;
Meu entendimento, concreto de cinzas, fumaça.
Não podemos fugir de nós.
Precisamos nos entender.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Parte

Durante muitas noites, bebi alegremente e conversei concentrada com um fantasma. Eu sorria, sorria e quando deixava de ouvir minha voz para que ele falasse, nenhum som se ouvia em nenhum lugar. Encolhia, eu encolhia meu corpo e chorava de medo: o fantasma existia, mas não falava.

Era uma companhia sempre presente ao longo do dia, mas era mesmo à noite que ele se apresentava com seu sorriso mudo e seus olhos abertos. Olhava- me, me fazia parte, o fantasma.

E sempre que eu, cansada, não mais queria falar, olhar para mim... e sempre que dele eu esperava um ato, um fato... meu desespero se fazia ouvir e eu enlouquecia sem razão, pois aquela era a minha razão.

O tempo passou e passou. Eu deixei as noites de lado, eu deixei o choro de lado, eu me deixei de lado, eu virei o lado e eu morri. Hoje, o fantasma habita minha alma. E vive comigo eternamente.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

2º Seminário Internacional de Gestão Cultural - Espaços Cuturais


Na próxima semana acontece o 2º Seminário Internacional de Gestão Cultural aqui em Belo Horizonte. O tema deste ano é Espaços Culturais, e a programação está show! Para quem ama cultura, como eu...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Periferia

A paixão faz das pedras inertes um drama.
L.C.

_ E a falta?  
  _ Outro.      
Neste embaço claro
Em que fulgura meu olhar
Através da janela
Sinto periférica a vida.
Urbana.
Beira desenlaçada
Que criva meu viver ao outro.
Limitada vida.
Lanço-me à margem diária
Do esquecimento,
Com lampejos de lembrança:
A cidade, o caos, o homem.
Roda
E eu fico
Corre
E eu fico
Passa
E eu sinto.
Não faço.
Aço não constrói laço.
Falta terra densa
Pó batido, concreto de sonho.
Sorriso.
Falta vida na cidade.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Carmim

A alça do meu desejo é carmim.
E está encoberta neste lugar
Onde não era pra eu estar
Agora.

Por um convite desfeito
Acabei por dizer a Miguel
Que o queria comigo
- aqui, na penumbra.

Como hoje, para teu agitado dia
Isto não importa, guardo a verdade
Para declamar-te
Em descanso.

Vingança para teu ciúme,
Suor para meu dizer
- alguma importância para ti? -
E concreto para meu carmim.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Tríade

 Eu temo é uma traição do instinto/ Que me liberte, por acaso, um dia/ Deste velho e encantado labirinto.
Mário Quintana

Que só muda de nome, mas que é meu.

Não sei aonde ando
Se ao ar ou ao chão.
Quando penso pés firmes em terra,
Tu vens e eu flutuo.
Com o corpo quente e mente firme,
Plantada, imobilizada:
Pés ao ar, mente ao chão.
Ignoro um clamor, ou dois?
Ouço ecos, então isto.

FIT 2010 - Festival Internacional de Teatro Palco e Rua

O Festival começa agora em Agosto, vamos?
Estou louca para ver a peça da Beth Goulart, Simplesmente Eu, Clarice Lispector...e eu irei, já comprei os ingressos! Corre lá também!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Gone with the wind

Sábado passado vi esta imagem na parede de um bar em BH e fiquei alguns minutos (alguns muitos minutos, pois minha atenção se voltava sempre) observando... desde então, ela não me sai da cabeça.

Descobri (sim, eu não sabia!) que é uma cena do filme "...E o vento levou" que eu ainda não assisti! Vou ver já!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Amanheço


Amanheço em tua noite
Vestida de sonhos, toques, carícias
Com presentes de muitos tempos
Para enluarar pensamentos
E dissuadi-los em versos.

Amanheço em tua noite
Como encontro rápido que fulgura
A lua e o sol na terra;
Amanheço...
Em teus abraços.

Pelo sabor paulatino de saber-te em mim
Que a lua ilumina meu fim.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Anomia confessa

Quero te contar os segredos por detrás da falta de intenção. Balbuciar baixinho o porquê de não dizer em sons o que sai em gráficas formas cada dia mais distorcidas pela teia de abraços e embaços errados; quero beijar sua face enquanto sussurro: eu matei a intenção e inventei a mentira. Será meu cúmplice, meu fado, e eu, o seu desassossego.

Quero pulsar em ti como em mim isto que é e eu não sei; para sair correndo aos teus braços e ritmicamente sentir seu suspiro de perdão dizendo: é o tempo, ele se encaixou às horas. Pela confissão de meus pecados serei capaz de chegar-te sutilmente, com a delicadeza em que banho os dias.

Morreremos então juntos, envoltos aos lençóis do querer, quando eu tocar esse sorriso lindo que bucoliza meu pensar quando não estamos. Irei calar tuas dores com as minhas; enxugar tua vida molhada com meus longos cabelos negros. Ruborizar teus dias com as lembranças destes cálidos momentos.

Permitiremos tudo o que não for. Então, tudo será.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sobre como me tornei máquina

A cobertura que se estende
Sobre meu sentir
É de palavras escudeiras
Que aquecem e alinham
Um desgovernado ser que sente
Em demasiada vivência.

Não é o manto que felicita
Um viver que cambaleia
Em pernas desnorteadas
Por um caminhar que cumplicia
A sombra; amar uma ideia
Não é amar um homem.

A dispersão desconexa
Argumenta uma enxurrada
De defesas que cuidam
De um corpo cansado
- não mente –
De pelos dias e futuro ser só
E desta solidão
Viver um nada.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Compras na Bienal do Livro de Minas

Como eu havia postado anteriormente, aconteceu em BH a Bienal do Livro de Minas. E eu, claro, não perdi. Até me excedi nas compras ( livros + stress = gastos), levei seis lindos exemplares para casa. E gastei pouco, o que foi maravilhoso!

Os três primeiros livros abaixo são literários, o seguinte comprei de presente para a Laís, e os dois últimos irão me auxiliar na monografia ( um arraso!).

Sabe quanto gastei? Menos de R$ 55,00... no próximo, estarei lá novamente!

E ah, fiquei triste por não ter encontrado neste mês o Carpinejar. Quando cheguei ao evento, ele já tinha ido embora...quero o Mulher Perdigueira já (qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência).







Tempo Psicanalítico - Psicanálise e Laço Social



quinta-feira, 13 de maio de 2010

Bienal do Livro de Minas

Eu vou, e você?
Clique aqui para ver a programação.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quanto vale?

"O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença."
Érico Veríssimo

Importa soltar palavras ao vento, como quem nelas não crê e as semeia ao terreno de pisar inverdades? Vale dizeres vãos, que insinuam caminhos que não serão percorridos, estradas de entendimentos batidos a pó e descaso? Por que felicitar o hoje apenas, sem pensar no que restará pela vida?

Não entendo porque tombas o olhar ao chão para comer migalhas. Não entendo o choro que teima em lavrar um rosto sulcado pelo cansado de se ver envolto às dobras que faltam a circularidade dos dias. A transitoriedade que reverencia uma indiferença que não tem outro motivo se não o de causar dor; eu não entendo.

O cansaço de ver um nome preso às horas diárias sem que valha algum mísero sabor, trás às mãos sangue frio que goteja um céu sem valor. A tristeza que existe, ao contrário dos antigos anos, revela a ideia de um homem não tangível, que despreza alegrias e cultiva frivolidades corriqueiras; um homem que mata fulminando indiferença e vive da alegria de seu ato.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Enlace

Quero uma página em branco para te escrever. Sorria.

Não sei de seu nascimento, apenas que recebeu uma mística pedra que carregaria por toda a vida como um amuleto de identificação entre os seus e os outros. Se fez quase ateu, não fosse pelas orações baixas que fazia em casa, tentando se esconder da vergonha de dizer que não acreditava no que não acreditava existir.

Cultuava um jeito contraditório que causava certa paixão em mim. Uma dualidade entre o gostar de ficção quando era um nato romancista me trouxe aos dias em que estivemos juntos um não saber quem era aquele que um dia estava e em outro, quem era aquele? E isto foi permanecendo em mim.

Em casa, só, questionava seus pensamentos, sentia-se e não gostava. Entregar-se a si seria penoso demais - refletia. Eu olhava aquilo tudo de longe, encostada na porta da cozinha, cigarro acesso ao céu pensando o que ele poderia querer. Não entendia onde eu estava naquele mundo. Olhava, eu o olhava sentando à beira da cama, corpo ereto a flertar ao lado. Me aborrecia, eu me aborrecia por nada. E recebia um afago como se afagasse um bicho, dizendo “aqui” e eu aquietava.

Um dia pensei em não ir, só para ver se ele deixaria que eu ficasse. Era hora de ficar e ficar em outro lugar. E ele, andando de um lado ao outro, entre beliscões macios e sorrisos violentos, disse nada poder fazer pela falta de poder converter caminhos.

Em um instante, mudou de gosto, desiludiu por motivos outros que não esses, se irritou, penteou meus cabelos com as mãos, sorriu, me abraçou, disse que, me disse tanto, tantas palavras, eu sorri, mas não acreditei e feliz me fiz. Esperei mais uma semana.

O nome que carregava refletia a instabilidade contrária de ser um alívio a quem nele tocasse, pois dizia de mau humor sempre que o mundo andava contra o que havia pensando acontecer – e isto aconteceu quando eu disse que iria partir. Ele se irritou, eu não entendi, e me enraiveceu, e eu me descobri apaixonada como uma pedra lavrada pela água que por ela passa como uma tromba d’água (trombas d’água não lavram pedras).

Naquele dia, eu só disse “eu queria que...” e “ eu queria dizer mais, mas sou melhor com as palavras escritas”. E fui embora, mas ele, já tinha ido antes – achara meu bilhete debaixo do travesseiro, com as iniciais palavras “eu vou te deixar”.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Crônica Caderno D + no Jornal Estado de Minas

Oi amigos!

Hoje tive a felicidade de ver um de meus textos publicados no Jornal Estado de Minas. É algo pequeno, mas já um passo que me deixa muito feliz...

Passei para partilhar desta alegria com vocês.

Um beijo,

Fernanda Fernandes Fontes

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Querer

"Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim"
Álvaro de Campos

Já era noite quando transcrevi meu último desejo ao olhar daquele homem. Olhei de um modo que não olhavam mais minhas antigas vontades de pertencer; achava-me antes, aturdida de ilusões e escapes.

O que vi transcendia verdades ditas à luz de uma percepção qualquer. O mundo daquela sala rescendia a um misterioso segredo de dizer mais do que todas as palavras existentes são capazes; tinha de ser por uma inventada, acalentada por aquele fixo olhar.

E nada consegui expressar, nada fiz além de sorrir enquanto lágrimas banhavam meu silencioso desejo. Eu queria ter sido livre antes de ela voltar.

domingo, 4 de abril de 2010

quinta-feira, 18 de março de 2010

O abismo

Desejo abismar-me em ti.

O chão, colo de repouso, não permite o encontro de meus pés. E permaneço desejo. Lanço-me em tua existência obscura - não de claridade, mas de ti ao meu encontro.

Abismo-te em mim.

Flutuamos insanos gestos ao ar sem que haja a captura de qualquer fragmento de sustentáculo. E ainda assim estendo o olhar e espero teu pouso.

O abismo de nós.

Só o ar preenche e aquece o entorno de meu corpo. Não há luz, não há calor. Somente imagens dispersas projetadas no escuro de meus olhos. Não há ninguém. Não há nada.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Aniversário do blog - 2 anos

Olá meus amigos!

Hoje o Degustação Literária faz dois anos. Compartilho com vocês a minha alegria da escrita, de belas músicas e telas. Obrigada pelo carinho e presença de todos! Hoje serei breve, para não me repetir demais...

Um grande beijo!

Fernanda

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dúvida da tarde

Tua ronda lança pequenas faíscas que trovejam enigmas nas tardes claras de meu sereno. Recolho resquícios da latente vontade de meus olhos para fertilizar outros campos, enxugando um sorriso com  mãos do que é possível ser, por hora.

Retorno ao meu ponto de encontro por um suspiro e, sorrateiramente, sinto teu despretensioso toque a negar o pacto que firmamos sem palavras, mas que cumpliciamos ao longo dos encontros.

O que somos, afinal?

domingo, 31 de janeiro de 2010

Alucinação

Ponta
faca
pronta
tonta.
Conta e apronta.

Norte de cá,
sul de lá.

Monta.
Pega.
Leva e desleva.
Fica
finca
pinta.

Rima teu pão
com minha boca.

Ponta.
Conta e apronta.
Contra faca,
leva
conta.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Receituário II

Sofro ausência de paixão.
Avassalos regulares antes,
disrítmicos hoje.
Perco os meandros da vida
e a linha, ponta, alinha
bambos passos.
Sofro ausência de paixão
lucidez de verdade.
Meu ar de morrer
- veneno, doutor -
meu ar de morrer
me pára.
Paixão, doutor: prescreva-me.
 
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