sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Morte diária da vontade

Os chinelos deslizam por seus pés até o alcance do chão. A noite chegou. Enfim. Teu corpo será aquecido por um grosso tecido que pesa menos que tua morte diária. Onze horas. E ele cava a olhos fechados a vontade de séculos imediatos. Cada dia é uma morte. Entende o porquê de os velhos caminharem a passos de lentidão: querem que as horas sejam mais velozes que a eternidade de suas inconcretudes.

Pensa, por anos, ser senhor do tempo. Todos eram. Só que ele era único. Modelado pelo cimento do mundo, de todas as vontades. E as suas, onde estavam? Perdidas pelo comando de teu senhor? De teu súdito?

O meu querer no tempo do outro. A força que move – ou paralisa – os dias, presente. Onde está a essência que alimenta e nutre meu viver? Abafada pelo tempo que não diz de mim....? Perdida na cama maquinal da rotina que queima meu pensar..?

Tem presa. E rodopia viciosos pensamentos cíclicos perdidos que não movimentam. Faz-se crer que teu tijolo ali está. Fecha os olhos. Para amanhã morrer novamente. Para cuidar de sua inutilidade histórica.

Do outro lado da casa, em outra cama, jaz outro corpo a respirar desejos e vontades. A construir um tempo que não pertence. A embolar os pés nos dias. E em outra, outra, outra...

O que difere tua existência da hora de todos? Porquê a tua vontade e não a dele? O que te faz merecedor do tempo?

Levantou da cama, quebrou as horas e viveu a noite - a madrugada possui raios que alimentam almas contrárias à dança da multidão. Eu quero meu passo. Eu quero a noite. Eu quero meu viver.

Saiu a dançar palmas e coragem; modelar a linearidade com traços de sofreguidão e carícias de real desejo. Renasceu até a sua morte e foi feliz por si.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Aos caracóis

Sabe por que não permito que sejas meu? Tem desespero teu semblante. Que pena! Seria tão bonito caminhar pelas ruas ao teu lado. Ouvir o som da sua música, cantar ao tom do seu violão...que pena! Não sinto sua amplidão, tua ânsia abafa. Pra quê faz isso, menino? És tão bonitinho, a me sorrir com estes olhinhos cobertos pelos cachos teus...ah menino...se soubesses como é fácil chegar-me. Difícil é ter olhos de tranquilidade para ver-me os caminhos. Menino: ainda tens muito a saber sobre mim...acalme-se,assim digo não, não... Torna-te homem primeiro depois diga-me os ais. Aliás, por dizer-me é que perdes a hora. Menino: me faz sorrir a tua inocente vontade...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Universo na Savassi

A poesia é sintomática.
Do charuto e da bebida russa
saem verdades
a desfilar pelas ruas da Savassi.
O café está em prantos.
O dilúvio é trazido pelo jazz
que ressoa lágrimas melancólicas.
À mesa ao lado,
uma alma velha
rasteja um jovem
corpo.
Cambaleia lúcido
a emudecer os lábios
com água,
apenas.
Me olha.
Não sorri -
mas é como se estivesse,
para mim .
E neste instante
é meu abraço,
meu pranto.
Toda existência do mundo
na figura sem nome.
O homem e eu.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Sangue, essências e aromas

Estou farta de belezas poéticas que não mais me alimentam. Do temor que me assombrou pela manhã, quando de sonhos acordei aflita: findavam os livros, que momento chegara que as letras se acabaram. Percebi que minha vida não era de viver. Era de ler.

Já não quero compreender, apenas sentir meus enganos. Nem sempre é bom ser poeta. Cria-se estória com tudo, até com a vida.

E quando de remendos vejo versos que me germinaram a alma - contrários também são verdadeiros - atiro-os a quem quiser conotá-los à vida de frouxos laços.

Que a amplidão do mundo embaralhe este emplastro de letras e extraia delas força a unir e não separar. Já que a vida carece ser acolhida, não a deixa ao dissabor do tempo.

Amigos mais que especiais

...porque eu amo muito e tenho muito orgulho! Porque é assim que sou muito feliz...sempre... que a gente nunca se perca...e que só aumente mais essa turma maravilhosa...amo vocês!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Abraço

(Starry Nigth - Vicent Van Gogh)


Conduzir teus passos.
Digo siga
E o fazes.
À direita, à esquerda
E andas.
Não o faço ao
imperativo.
Mas ao cuidado
de querer-te bem.
Tenho por desejo,
com tal feito,
conduzi-lo às lágrimas
e sorrisos
sem dor.
Quero que te vejas
gigante em acolhimento
não rejeites os braços
abertos que por ti passam.
Ame mais.
Sinta mais.
E leve, leve
caminhe pela natureza.
Adormeça a dor que te grita os dias.
Me dê as mãos:
Vamos voar neste céu azul
com os pés fincados ao chão.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Eterna efemeridade.

O sorriso que me fez querer mais que o tempo.

Espelho de efêmero momento.Foste minhas inverdades coléricas por um segundo. Me destes adeus? Nem sei, estava inebriada de vontades infindas, envolvida por ti. E meu pensar estava a rodar por teu sorriso. Será mesmo que estivemos juntos? Me negastes o tempo. Teus dizeres passageiros foram. Contrários aos meus pensamentos. Mas teu sorriso e sabor gravados em minh'alma. Foste meu inferno, meu contrário. Em poucos minutos nos desentendemos e nos encontramos! Foste único por esta essência. E te perdi neste tempo. Onde estás que não aqui ao meu lado? Bailamos tangos quando de novos sons, experimentações musicais. Brincamos com nossos quereres. E aqui estou, a me penitenciar por ti. E ao sabor que o desabor de minhas palavras te ofertei, calastes com nosso silêncio. Silêncio que me ofereceu em troca de sentir o sabor de minhas palavras. Dei-te o privilégio de ler minhas letras no berço de meus sons. Foi o que me marcaste em ti.
..então deixo. Para que não me esqueças jamais. Não teria sido belo, se diferente fosse.
Adeus!

sábado, 3 de janeiro de 2009

Sobre corpos e almas

Então o brado que ressoava no cume da montanha, que retumbava a ecoar os horizontes, me trouxe flores em cesta de manhã clara. A noite perdurou a eternidade da sofreguidão alcançada pelo êxtase sublime de percorrer a caminhada a passos de leve pena. Está sentindo? Um forte cheiro de rosas...onde estão? Abaixas e pegas o pó de outros passos. Sopra em sentido caminho contrário. E as mãos se entrelaçam à madeira que talhamos em golpes de suspiros. Deitamos descanso seco em relva molhada. Há uma clara estrela no céu a iluminar todo o frescor da chuva em tua face; de felicidades se derrama. Nos encontramos. Enfim.
 
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