domingo, 27 de abril de 2008

Resposta

Roberto

Como foi rápido nosso encontro e duradouro meu arrependimento. Vi em você algo que sempre busquei e que nunca havia encontrado. Que tolice a minha! Como pude acreditar que ao seu lado tudo ficaria bem?!

Escondi de mim o que todos já sabiam. Assim o fiz por medo de sofrer. Sei que fui fraco, e continuo ao responder a sua carta, pois não há mais volta.

Você é fraco! Encobriu a vida toda o seu verdadeiro homem e não fui capaz de ser a sua certeza. Continue sofrendo, parece que só assim você é feliz! Mas você não tem o direito de fazer sofrer Joana. Ela não nos merece, seja homem ao menos uma vez.

Não me preocupo de você tirar sua vida: não é forte o bastante para isso. Continue a sofrer só, sem fazer da vida dos outros um sofrimeto.

Assim como te inventei, destruo minha criação. Você não é e nunca será o homem por quem me apaixonei. Construí um amor. Mas você não existe como aquele que permeava meu futuro. E por não saber se o que inventei estava em mim ou em ti, utilizo do meu esquecimento para assim fazê-lo.

Nunca mais,

Paulo.

PS.: A infelicidade está em você, não nos relógios...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Infelicidade: a carta

" Porque um dia se vê que as horas todas passam,e um tempo despovoado e profundo, persiste." Cecília Meireles


Roberto

Hoje quebrei meu relógio. Quebrei também o da sala. Destruí minuciosamente o do quarto. Agora acabou. Estou livre deste anti-felicidade. A leveza com que me encontro superará toda a falta sentida. Toda hora marcada. Surgirá um novo espaço vazio. E eu não precisarei me encher do teu vazio. Das tuas falsas ilusões.

Agora não medirei minha infelicidade. Acabou! Nunca mais existirão suas alegrias, sorrisos, palavras, ausências.

Sabe, Roberto, viver dói. O meu, o seu, o nosso. A sua felicidade me machuca e você não a terá mais.

Imploro: destrua seus relógios. A felicidade não deve existir.

Agora livre,
Paulo.

continua...

sábado, 19 de abril de 2008

Angústia

E eis que ele abriu a porta e entrou. Não disse nada, não a olhou.Caminhou a passos pesados, com a respiração alta. Foi para o quarto. Da sala, com os olhos fechados, ela tentava imaginar o que ele fazia, o que pensava. Sua alma lagrimejava e a cada gota d´água que nela aparecia, uma pontada surgia em seu peito. Não podia ficar assim. Tinha que haver um jeito de superar aquilo tudo. Sentada no canto do sofá, rezou em mente para que aquilo tudo tivesse um fim. E que fosse rápido. Mas sabia que isto era impossível. E chorou. E doeu. Lentamente, deixou que o peso todo que sentia se deitasse naquele sofá. Abraçou sua dor e deixou que ela a possuisse. Não adormeceu. Da janela de seus olhos, visualizava uma abstração projetada na cortina. E dela vinha uma voz que fincava: " Não aguentava mais, você precisava saber...".



continua...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Emociológico

De tanto o coração dor
A cabeça pulsa:
Cistole, diástole...
E quem pensa é ele.
 
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