domingo, 18 de setembro de 2011

A menina, as cores e ele

Menina de trança que carrega estrelas nos olhos. Volta ao acalanto das tardes infindas em que brincava de flores no balanço da mangueira. Sorri ao bater de asas do beija-flor que navega pelo ar, próximo ao seu rosto. Menina de encantos: Luiza.

A pintar os dias em cores, passeia o menino pelas tardes, com o sol enluarado a banhar lembranças. Brinca de sonhos quando observa flores em sorrisos, tranças de saudade. Pensa no beija-flor a ver estrelas. Menino de encantos: Raul.

_ Para mim, as segundas são capim fresco, são presentes de natal que a gente vai ganhar. São verdes!
_ Pois para mim, amarelinhas como aquelas flores da D. Maria da Paz, aquelas que seguem o sol... são terças! Amarelinhas...
_ O céu fica vermelho nas quartas, feito a pipa que empino lá no topo do mundo. Engraçado, quarta vermelha.
Gargalha.
_ Na quinta sinto falta do meu vovô, quintas são azuis de saudades.
Silencia.
_ Chocolate... delícia! Sexta quero brincar, sextas são marrons.
_ E eu, no sábado, quero me pintar de boneca, ficar toda rosa, feito um jardim. Rosas nos sábados!
_ E no domingo, Lu, que cor sobrou do giz de cera - indaga?
_ O domingo tem a cor cinza, cor de chuva, pra gente ficar quietinho lá em casa ouvindo o pim... pim das gotas na janela.

Saiu pelas ruas, pegou o sol e girou a flor, peneirou a água e cresceu o verde mato, laçou o vento e lançou a pipa, se deliciou do paladar doce do divino, observou a rosa e choveu de vontades. Ao tempo disse: "Quando a gente for grande, e eu casar com você, a gente vai viver sorrindo".

O rodado vestido branco colheu o pensamento de mato, sol, água, melancolia, sabor, beleza e embalo. Ao tempo disse: "A gente vai ter dois filhinhos, o Miguel e a Helena, e a gente vai à praça com eles né?!".

Fecharam os olhos. Pediram:

Quero-te pequena a trazer-me beleza ao corriqueiro dia. O tempo presa tem, isto dói, perde sabor. Vem pra mim, vem...

Quero-te valente a trazer-me segura, cúmplice de passos. O tempo presa tem, isto dói, perde calor. Vem pra mim, vem...


E o mundo segue seu caminho, para quem acredita em destino e para quem nele não crê.

sábado, 9 de julho de 2011

Degustação Literária no Escambo 2011

Olá amigos!

Recebi um convite super carinhoso do meu amigo João Rafael e da Isadora Carvalho para participar do Festival de Experiências Culturais Escambo 2011. A organização do evento que acontece em Sabará (MG) é do Coletivo Fórceps e conta com uma programação show! Estarei no dia 19/07 às 19h na Biblioteca Pública recitando alguns poemas com outros artistas no Sarau Engrena. Espero vocês!

terça-feira, 31 de maio de 2011

"...me deixe hipnotizado prá acabar de vez com essa disritmia..."

Gosto-te colado
Entrelaçado
Firmado.
Em juras
Sorrisos;
A fincar vontades
Abrupto de querer.
Provocador
Impetuoso
Rítmico.
Em um encandecente deslizar
Que me arrebata.
Lanço-me

A ti.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Oração - A Banda mais bonita da cidade

Olá amigos!

Fico feliz em ver que, mesmo postando pouquíssimo, este blog continua a ganhar seguidores. Obrigada pela presença e carinho de todos.

Para começar bem a semana, uma canção...quem me conhece, sabe que amo estas que nos levam a sonhar...dá vontade de sair dançando...você me acompanha?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Verdade

Como vivem
Os que de sim
dizem feita a vontade?

Não suporto mais buscar a ilusão
De viver pela concretude
Científica, definitiva, real.

Cansei de ter o porquê
Na palavra e no coração.
De procurar o eixo
O lado, o fato
De ver meu corpo envelhecer
Enquanto a dúvida rejuvenesce.

Sem ver, ouvir, sentir
- minha alma não isenta -
Não creio.

Mas enquanto repouso a dúvida
Fortemente, ela tenta se apossar de mim
E permanece a buscar seu lugar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Liberty - Beatriz Milhazes

Liberty, 2007
Colagem sobre papel
135 x 130

Já que hoje o dia está cinza, cores da Milhazes...porque sei que vocês também gostam!

terça-feira, 1 de março de 2011

The way you look tonight - Tony Bennett



Esta é a música mais linda que já ouvi na vida...ela é especial...estava esperando um momento assim para postá-la, que bom que ele chegou...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Banzo

Te vi. Distraidamente caminhando pela rua, olhando à frente, sem que ao lado me percebesse. Te vi. A pensar sobre o que não sei e que jamais entenderia, por estar envolta a ti que não era nada além de mim. Te vi. Não dizias, não sorrias, apenas estava. Senti, pois não podia me ver com meus olhos; somente com os de outrem, mas ninguém me via. Eu me percebia, mas não enxergava. Então te vi. E você nem estava.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A perversão

Helena chegara em casa inquieta e angustiada. Longo o dia, de tarefas iguais, mas de pensamentos desequilibrantes. Lutara por semanas sem grande esforço, para se sentir bem com o dia de cada vez, buscando prazeres antes fugazes e saboreados agora como leves traições imaginativas. Mas tudo havia mudado como (ou pela) transição das cores no céu.

Ao entrar em seu apartamento naquele dia, ela desprezou qualquer canto e de maneira quase retilínea caminhou até seu quarto onde, enraivecida, retirou as roupas como se mal houvesse nelas que expusesse seu corpo a uma enfermidade.

Deitou na cama fria e sentiu o calor gélido subir por seu corpo. Chorou estranhamente um choro desconhecido ou esquecido, como aqueles em que se chora na barriga da mãe. Sentiu se esvair o labirinto de seu sossego, viu um desconserto nascer já em clímax e definhar a gotas leves.

Era a loucura, sorriu Helena em entendimento de ser, não de existência. Revolveu-se nos lençóis, esticou o corpo, pensou ser o melhor, imaginou a morte de quem amava em uma longa noite de amor com uma vadia qualquer.

Enquanto o corpo esquentava por tantos movimentos, Helena foi se aquietando e voltando a ser aquela velha conhecida e materializada quando pronunciado seu nome em referência: Helena.

Levantou-se da cama, foi ao banheiro onde lavou o rosto, não retirando por completo a negra cor pintada em seus cílios. Viu a água escura escorrer por sua face, sulcando aquela pele alva, de uma mentira tão amiga daquele olhar. Fixou-se no espelho e sorriu divertida ao ver a cena. Helena. Aquela velha conhecida.
 
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