Menina de trança que carrega estrelas nos olhos. Volta ao acalanto das tardes infindas em que brincava de flores no balanço da mangueira. Sorri ao bater de asas do beija-flor que navega pelo ar, próximo ao seu rosto. Menina de encantos: Luiza.
A pintar os dias em cores, passeia o menino pelas tardes, com o sol enluarado a banhar lembranças. Brinca de sonhos quando observa flores em sorrisos, tranças de saudade. Pensa no beija-flor a ver estrelas. Menino de encantos: Raul.
_ Para mim, as segundas são capim fresco, são presentes de natal que a gente vai ganhar. São verdes!
_ Pois para mim, amarelinhas como aquelas flores da D. Maria da Paz, aquelas que seguem o sol... são terças! Amarelinhas...
_ O céu fica vermelho nas quartas, feito a pipa que empino lá no topo do mundo. Engraçado, quarta vermelha.
Gargalha.
_ Na quinta sinto falta do meu vovô, quintas são azuis de saudades.
Silencia.
_ Chocolate... delícia! Sexta quero brincar, sextas são marrons.
_ E eu, no sábado, quero me pintar de boneca, ficar toda rosa, feito um jardim. Rosas nos sábados!
_ E no domingo, Lu, que cor sobrou do giz de cera - indaga?
_ O domingo tem a cor cinza, cor de chuva, pra gente ficar quietinho lá em casa ouvindo o pim... pim das gotas na janela.
Saiu pelas ruas, pegou o sol e girou a flor, peneirou a água e cresceu o verde mato, laçou o vento e lançou a pipa, se deliciou do paladar doce do divino, observou a rosa e choveu de vontades. Ao tempo disse: "Quando a gente for grande, e eu casar com você, a gente vai viver sorrindo".
O rodado vestido branco colheu o pensamento de mato, sol, água, melancolia, sabor, beleza e embalo. Ao tempo disse: "A gente vai ter dois filhinhos, o Miguel e a Helena, e a gente vai à praça com eles né?!".
Fecharam os olhos. Pediram:
Quero-te pequena a trazer-me beleza ao corriqueiro dia. O tempo presa tem, isto dói, perde sabor. Vem pra mim, vem...
Quero-te valente a trazer-me segura, cúmplice de passos. O tempo presa tem, isto dói, perde calor. Vem pra mim, vem...
E o mundo segue seu caminho, para quem acredita em destino e para quem nele não crê.