segunda-feira, 18 de julho de 2016

Os anos de Augusto

Augusto é órfão de família viva - de corpo presente - desde que sua amada avó falecera ano passado. De seu nascimento até a noite que ela voltava para casa sem nunca mais ter chegado, Dona Ciça era quem cuidava do pequeno e  quem teimava os ouvidos quando os outros diziam "deixa o menino" e se iam; ela, agarrando-o pela mãe do "venha", aconchegava-o em seus pertos. Aquietava, assim, os dois. Deu-se então que, assim que partira, os outros disseram ao garoto "que assim seria" e ele se foi - indo.

Um dia na escola, com o assobio na cabeça, ouviu ao longe o vento que soprava, no gesticular da professora.

- Augusto, perguntei o que você quer ser quando crescer! Então, o que pretende?!

De pronto, como se o vento sempre fosse um tufão "aqui dentro", autobiografou a dureza de seus poucos anos, que queriam ser muito além do "esse menino ai":

- Eu quero ser velho, senhora! Eu quero ser velho...

Depois disso, Augusto emudeceu dias sem saber por quê. Talvez, a chave da vida tivesse voz, mas não vez. Talvez porque a vez, fosse mais do que a voz em uma criança.

Ele quer ser velho. Augusto quer ser velho. "Meu menino entendeu o ser".
 
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