sábado, 29 de novembro de 2008

Poesia visual


Hoje a minha poesia se faz pelos sorrisos aqui presentes. Tarde de sexta em encantos. Parques, praças e felicidades. Porque o trabalho pode ser poético, como a poesia, trabalho.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Às quartas

Às quartas ele a amava.

Quartas eram dias monótonos, de solidão. Dias em que não haviam festas,em que os amigos não bebiam álcool. Às quartas eram dias pequenos. Não em sua dimensão, mas em sua significância. Não havia música, não havia companhia.

Às quartas ele a desejava para o sempre.

O trabalho não passava, o chefe estava sem humor. O livro, cujos capítulos eram devorados nos dias outros, neste não prendia sua atenção. Seu corpo se curvava, pois estes eram dias quentes, dias de abafamento. Não havia ainda a expectativa dos bons fins de semana de celebrações, nem o recomeço de uma semana promissora. Às quartas eram metades. Não importavam.

Às quartas ele lembrava dela.

Às quartas não tinham importância. Às quartas não tinham sabor, não havia nada para fazer. Às quartas ele era detestável. Às quartas eram dias de questionamento e preguiça. Às quartas ele a queria, mas somente por ser quarta. Só neste dia ele a amava.

Assim ela era importante. Assim como às quartas.

Ela? O detestava neste dia. Nos outros, o amava tanto que se tornava quarta no querer dele. E com isto, vivia sempre uma quarta-feira. De quinta a terça ela não se valorizava, não cuidava de si.

Dizem os astros que quando o dia 3 cair em uma quarta do segundo mês, ele a pedirá em casamento. Serão infelizes para sempre.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Enigma

Minhas mãos pela áspera face sua.

Alegro-me por presença, mesmo que por pensamento seja. Tua contemplação faz clamar meu olhar a retirada do véu que presente se faz. Te quero desvendar a alma. Teu mistério clareia, reluz. Envolvo-me por enigmáticas órbitas de inúmeros pensamentos . Bailo ao imaginar-te visão.

Tua áspera face por meus lisos lábios.

Pra ti:

Rosto de múltiplos dizeres;
O vir será de calmaria.
Suave, chego-te por
janela aberta
se desejo for vontade.
Abertos meus braços,
meu colo.
Repousas em mim
peso, verdade e beleza.
Inscreva-se sabor
à nuca ofertada,
faça-se em mim.

Pra mim:

Frescor de palavras
claras que intimam
um leve e atroz desejo
que cria o
empírico
dia que virá.
Raiar da clara lua
nua
breve
incessante.
Água.

Que seja o que for, o que quiseres, o que eu quiser!

Decifra-me.

Que te devoro.



Always in my heart (India Aire)

domingo, 9 de novembro de 2008

A dois - Fato

_ Te quero névoa!
_ Me vejo brisa!
_ És linda...
_ Tua imagem de mim diz...
_ Me faço semente!
_ Terras secas não fecundam...
_...me faço flauta...
_ Só ouço tambores!
_ Te faço um verso...

_ Devolva minha alma! Ela não é tua.
_ Há desejo de descobrir-me ao teu viver
_ Ao som da flauta?
_ À tua canção rítmica.
_ Me alivia?
_ A dor te desvia.
_ Só ela me guia.
_ Desvenda-te...
_...pela aparente vontade...?
_ Estás gravada aqui.
_ Tens pedaço de minha dor em ti.

_ Absorvo o que transparece.
_ Letras convexas vislumbram abstração?
_ Fôrma de invenção!
_ Enamoro-me de mim...
_ Alimento-me de teus versos
_ Seria intenso...
_ Belo...
_Curto...
_ Arrasante.

Derão as mãos e seguiram.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Cecília

Cecília sentia-se adormecida. O tempo resolvera ser contínuo, sem alterações temporais que a obrigassem ao aconchego de mantas ou à observância do choro dos céus; pesado não se fazia o ar ou radiante o clarear do calor. O dia era. E só.

Bailavam emoções no corpo de Cecília. Compassada, dançava sem a perda do ritmo. Por vezes sozinha, por outras em termos. Seu corpo era. E só.

Atirada fora Cecília, pelas asas de uma borboleta, ao solo revolto de terra úmida. Amortecida pelas flores que ali jaziam, a nada sofreu. Teu propósito não era. E só.

E era só.

Invadida sentia-se Cecília.
_ Permito o arrombamento!
A chave, deixada por sobre a mesa, girava na fechadura aberta de seus olhos. Não mais só. E era. Cecília. Assim, permanente. Constantemente permanente.
 
Creative Commons License
Degustação Literária by Fernanda Fernandes Fontes is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.