Sou mulher de vontade imperativa, que anseia o logo e penitencia os dias com a crença de fazer, não deixar para o tempo. Nego alguns escritos e já quis ter o som de Piazolla tatuado no braço esquerdo, onde mora uma emoção não vivenciada. Possuo o dom de ir do riso às lágrimas como uma linha de eletrocárdio, culpa da vocação ou dos hormônios, não sei. Sou conscientemente fraca em mim e forte quando neles. Há pouco deixei de chorar lágrimas para banhar papéis nas letras, o que me causa o título de poeta e o constante incômodo do não contentamento. Não tenho amor a bichos. Abstenho-me de íntimas confidências pelo cansaço. Amo em excesso e vivo uma overdose sentimental diária. Queria ter mais dons artísticos do que o concedido pelo distraído anjo arteiro - mas agradeço a oferta. Espero ser surpreendida e me surpreendo com a falta de ação rotineira. Tenho um homem que me ama quando há tempo para o amor. Sou de vaidade amena, não guardo ódio por ninguém, apesar de já tê-lo sentido. Amo a lua, o silêncio da madrugada e vinho a descer garganta. Queria encurtar umas distâncias e não canso de culpar a geografia e o asfalto por uns abraços perdidos - e uns beijos, para dizer alguma verdade. Sou mais feliz quando ouço Benett cantar "...just the way you look tonight..." e não resisto a um sorriso bobo literário. Não estou no lugar a que pertenço e não sei onde ele está: mas é pra lá que caminho. Tenho por imagens girassóis, nuvem branca em céu vermelho e uma estrela-cadente em noite de abraço apertado e jura de amor. Aflinjo-me com o não alcance do que desejo - desejo daquela felicidade. Quero ir além, estar e sentir. E vou, se lá, não sei.