domingo, 27 de janeiro de 2013

O nome - Final

Fluência. Eu não tenho fluência, eu tenho passeios. Pelas palavras percorro brincar de plenitude. Agora passeio pela rua. Pela rua porque é apenas uma rua. Pela rua sinuosa, insinuante, reta, ereta, dura. Agora sim, pode sorrir. Tenho saudades de muralhas e de esquecer nomes. Por que eles me vêem, eu perco a leveza. E viro rua. O perigo de se virar rua. Você já foi rua?

Eu não quero me escrever mais. Já disse muito. Não haverá mais cenário. Nem nome e eu não sei se serei. Não direi mais nada. Serei silêncio. Não queria dizer eu. Eu queria morrer do jeito que você entende morrer. Porque eu sei que as pessoas morrem também, mas ninguém morre como se deve morrer. Só como não deve que as pessoas morrem. Eu não queria que as pessoas morressem como elas sabem morrer. Queria de outro jeito. Mas não há.

Porque eu gosto das coisas simples da vida. De comprar flores. Quem compra flores, você compra? Eu compro flores para enfeitar minha sala. Andando em outras ruas que não estas – existem sim outras ruas, mas quase nunca as percorro – colho flores para mesclar a vida e a morte, pois as coloco na sala. Eu recolho flores porque é simples e me dá alegria. Eu quase não planto alegria, e colho flores. Não colho alegrias porque não planto flores. Só as recolho e levo comigo.

Ir. Está na hora de ir, mas estou tão cansada que minha mente não coordena meus pés que vão indo pra onde for que houver. Mas não há. Pra onde sigo, então? Impulsiva, não desejosa. Perdi o sabor de prosseguir. Luto contra o mundo, mas não adianta. Sou tão fraca, tola, cíclica que me perco sempre. Sempre. Na mesma rua em que ando reta.  Pelos mesmos caminhos em que há anos sigo por seguir. Caminhando de coração laçado com o fantasma.

domingo, 13 de janeiro de 2013

O nome - Parte 8 (cont.)

Então quando eu era pequena, brincava de viver. E não haviam segredos. Aliás, haviam segredos, mas eram segredos bons, que davam sabor à vida. E isto me fazia viver. Você vivia quando era criança? Eu já fui criança. Assim, criança diferente, porque cada criança é diferente da ideia de ser criança que o adulto tem de quem criança é.

Muralhas dormem em paz, suspirando sonhos de criança que é, e vê a verdade e finge que vive. Eu não durmo. O dia se aproxima, mas já é dia, só que ainda está escuro. Eu gosto do escuro. E eu não queria gostar mais de anjo, mas eu não sou dona de mim. Eu sou sem querer, mesmo estando morta. Porque a ideia está morta. Você morreu?

Estou cansada. A cama me preenche... não!, eu preencho a cama. Eu, eu. Eu sou eu. Está feliz? Eu sou eu. Eu sou eu. Eu sou. Sou eu. Eu. Que vontade de ser feliz agora. Porque você descobriu que eu sei que sou eu. Eu sempre soube, mesmo quando eu não era eu. Eu nunca fui a ideia de criança que você pensa que criança é, por isso eu sempre fui. Tenho pena de ser. Eu não queria mais.

Você sabe como marcar a vida? Vou desvencilhar as mãos para sair daqui. Muralha de anjo: beleza leve, que sonha vento de encanto fugaz.

Estou cansada, vejo os raios do sol. Amanheço. Eu amanheço, e a beleza das metáforas segreda tantas confidências. Você está preparado para saber o maior de toda a vida? Vou te contar, mas somente quando você for. Ninguém mais dorme neste apartamento. Agora não posso continuar...
 
Creative Commons License
Degustação Literária by Fernanda Fernandes Fontes is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.