Então quando eu era pequena, brincava de viver. E não
haviam segredos. Aliás, haviam segredos, mas eram segredos bons, que davam
sabor à vida. E isto me fazia viver. Você vivia quando era criança? Eu já fui
criança. Assim, criança diferente, porque cada criança é diferente da ideia de
ser criança que o adulto tem de quem criança é.
Muralhas dormem em paz, suspirando sonhos de criança
que é, e vê a verdade e finge que vive. Eu não durmo. O dia se aproxima, mas já
é dia, só que ainda está escuro. Eu gosto do escuro. E eu não queria gostar
mais de anjo, mas eu não sou dona de mim. Eu sou sem querer, mesmo estando
morta. Porque a ideia está morta. Você morreu?
Estou cansada. A cama me preenche... não!, eu preencho a cama. Eu, eu. Eu sou eu.
Está feliz? Eu sou eu. Eu sou eu. Eu sou. Sou eu. Eu. Que vontade de ser feliz
agora. Porque você descobriu que eu sei que sou eu. Eu sempre soube, mesmo
quando eu não era eu. Eu nunca fui a ideia de criança que você pensa que
criança é, por isso eu sempre fui. Tenho pena de ser. Eu não queria mais.
Você sabe como marcar a vida? Vou
desvencilhar as mãos para sair daqui. Muralha de anjo: beleza leve, que sonha vento
de encanto fugaz.
Estou cansada, vejo os raios do sol. Amanheço. Eu
amanheço, e a beleza das metáforas segreda tantas confidências. Você está
preparado para saber o maior de toda a vida? Vou te contar, mas somente quando
você for. Ninguém mais dorme neste apartamento. Agora não posso continuar...
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