sábado, 31 de março de 2012

Janela quebrada


Quando olho ao horizonte, não vejo mais aquelas cores que brilhavam a mim como perpétuas luzes que nunca iriam se cessar. Aquela imagem de contornos precisamente delineados, faiscados de uma alegria prolongadamente verdadeira, se apresentava diariamente à paisagem rotineira de meus dias com uma beleza doce e harmoniosa. Era assim que eu sabia olhar; esta era a sombra fresca em que eu deitava vista quando ao lado o mundo estava monocromático. 

A janela extendia meu olhar à vida. Transparecia desejos tão cheios de sonhos e fantasias, ao passo das alegrias que a felicidade traz. Moldurava meus pensamentos à esperança de que ainda havia vontade, ousadia.  

Mas a janela quebrou. E eu não sei viver mais. Meu corpo não pode se mover. Outras cenas não se encaixam a moldura de meu olhar que agora se delineia através de um vidro abstrato, de contornos imprecisos e imprevisíveis. A nova forma mudou a cena. E onde me encontro, neste lado de cá da rotina? Cinza, o interior da vida é cinza, e abafa a ausência de ventania externa.  

A janela transita entre quem eu sou e quem eu sou? 

Hoje, só, vejo. Somente hoje vejo. É assim que eu sei ver, só assim sei viver.

2 comentários:

****Josi**** disse...

Que lindas letras, Fê!! Lindas e doídas, delicadas e pungentes. Nem falo nada, não tenho como. Me resta desejar que novas janelas possam lhe emoldurar paisagens de alegria e festa. Bju grande =]

Newton Kage disse...

Belo post, amiga!
Gostei!

 
Creative Commons License
Degustação Literária by Fernanda Fernandes Fontes is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.