segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O nome - parte 4


Pego um vinho na segunda porta da cozinha do apartamento em que ele está. Em que estamos. Não há taças, por isso bebo na garrafa. Estou com calor, a noite está quente. Ele dorme como um anjo e eu não digo mais nada. Engoli as palavras em um gole tinto – sinto minhas mãos doerem. Vinho rubro, fez descer as palavras por meu corpo. É o vinho que desce por meu corpo. São as palavras que descem por meu corpo. Você gosta de vinho? 

Eu gosto de sair à noite; não durmo mais. E ele? Parece um anjo enquanto dorme. Enquanto vive também. Esqueci as palavras. Me empreste as suas? Já que não durmo, verei anjos. Eu não digo mais. Ele dorme. Eu bebo. Ele parece um anjo. 

Há uma fotografia que me olha enquanto estou aqui. São três e vinte seis. Logo serão três e vinte sete. E a fotografia não mudará. Eu mudarei, irei expirar o ar que está em meus pulmões. Eu queria dormir de novo. Um dia, que seja; acho que preciso fechar a janela, venta muito e não sinto mais calor. Agora estou com frio. 

Parece uma muralha a fotografia. Alta, de olhos cor de verde agora, cor de mel quando há sol – agora eu convivo com o sol. Ele me olha, a fotografia me olha. Ninguém dorme mais, nem anjos. Nem muralhas. Um anjo de muralha. Parece vento manso. Anjo de muralha que venta manso...



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