segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Parte

Durante muitas noites, bebi alegremente e conversei concentrada com um fantasma. Eu sorria, sorria e quando deixava de ouvir minha voz para que ele falasse, nenhum som se ouvia em nenhum lugar. Encolhia, eu encolhia meu corpo e chorava de medo: o fantasma existia, mas não falava.

Era uma companhia sempre presente ao longo do dia, mas era mesmo à noite que ele se apresentava com seu sorriso mudo e seus olhos abertos. Olhava- me, me fazia parte, o fantasma.

E sempre que eu, cansada, não mais queria falar, olhar para mim... e sempre que dele eu esperava um ato, um fato... meu desespero se fazia ouvir e eu enlouquecia sem razão, pois aquela era a minha razão.

O tempo passou e passou. Eu deixei as noites de lado, eu deixei o choro de lado, eu me deixei de lado, eu virei o lado e eu morri. Hoje, o fantasma habita minha alma. E vive comigo eternamente.

2 comentários:

:.tossan® disse...

Um dia pleno de utopias urbanas, como acreditar num pôr-do-sol em cada entardecer e no tempo de olhar pra ele e fazer poemas ao lado dos fantasmas! Muito bom Fernanda. Beijo

Dario B. disse...

Menos mal, sabe-se lá como viveriamos sem ele...

 
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Degustação Literária by Fernanda Fernandes Fontes is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.