terça-feira, 21 de abril de 2009

Alento

Uma canção nesta noite cantei. Acalanto lacrimoso de sangue que não chega ao chão. Gotejo um brincar derramando nas suas e minhas mãos um desaguar de notas rubras, vergonhosas, traiçoeiras.

A canção me deitou ao chão molhado pelo orvalho frio, lambidinoso que me toca a pele. E o sangue de mim, amassei com o coração embebecido de razão, que grita a dor que unge meus dias. Ah!, essa lamúria que não cessa, esse desespero homem que não cede à minha tortuosa fuga.

Ressurge diariamente e me faz negar o que ainda me grita: as mentiras que canto, são para esquecer o que a todo instante me vem em dó maior; notas que adubo, mortas. E meu clamor, cântico circular que de mim sai, mas fica, não chega onde precisa.

E em meio à noite escura, olho para o céu. Ele também sangra e goteja. E me pergunto se ai também assim ele se apresenta.

9 comentários:

O Profeta disse...

Mágnifico texto...


Doce beijo

João Rafael disse...

que encontro! Primeiro de muitos!

Euphoria disse...

Li

Depois ouvi o "texto" anterior; li de novo enquanto isso
Vou ler no futuro próximo ou distante, uma ou mais vezes...
É sempre algo novo

Heduardo Kiesse disse...

vim pelo amigo iilógico pra gostar deste lugar

:-)

A.S. disse...

Fernanda,

Também de rasgões é feito o poema!
E quando sangram as palavras
há também um clamor que se grita,
mas não chega onde é preciso!

O Céu também goteja, mas cada gota será convertida numa silaba, cicatriz do poema!...


O teu texto está belissimo Fernanda!

Beijos!

Anônimo disse...

Quando o sangue se esvai nada mais resta. Na noite o pano cai, e tudo se revela. Cada dia é um dia cheio de experiências novas, tudo pode acontecer, é a beleza de não prevermos o futuro. Muita Paz e Amor...:)

Mariana Costa disse...

Maravilhoso !!!!

Luna disse...

aqui meu céu também sangra.
moça, seu blog fica mais lindo a cada dia e fico feliz de que ele e você existam.
viver é mais macio quando se pode compartilhar..

beijo

Filipe M. Vasconcelos disse...

Mentiras para esquecer notas.. Clamor que não alcança os pontos a que visa alcançar.. e um céu que goteja, porém, se apresenta..
Essa composição ficou ótima querida amiga..
Espero que um dia as notas substituam as mentiras, que o clamor tenha como alvo seus próprios ouvidos e que o céu venha a ter gotas de azul, sangradas por nuvens brancas..
Beijos

 
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